Ex-senador e ex-governador Casildo Maldaner enviou uma “carta aberta” à executiva estadual do PMDB, defendendo que a seção Barriga-Verde do partido chegue à convneção nacional com uma “posição firmada” em relação ao quadro político atual. Para o peemdebista, a situação é aterradora, pois a “crise política corrói as relações entre os poderes.” Confira:
“CARTA ABERTA
Pela democracia e legalidade
“Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio, o cemitério.
A persistência da Constituição é a sobrevivência da democracia”.
Ulysses Guimarães
Inegavelmente, o Brasil atravessa um delicado momento político e econômico. Esse tempo de incerteza exige, mais do que nunca, um posicionamento firme e responsável de seus líderes.
Coerente com nossa longa história de lutas, o PMDB de Santa Catarina não pode permanecer silente, devendo oferecer sua contribuição. Por tal razão, submeto algumas reflexões à análise de nossa Comissão Executiva Estadual para, se esse for o entendimento, levarmos uma posição firmada à Convenção Nacional do PMDB.
Ao avaliarmos a situação atual e as perspectivas de curto e médio prazo, deparamo-nos com um quadro aterrador: a crise política corrói as relações entre os Poderes. Os reflexos espraiam-se no desempenho de nossa economia, com riscos à estabilidade duramente conquistada.
“O PMDB exerce suas atividades políticas visando à realização dos objetivos programáticos que se destinam à construção de uma Nação soberana e à consolidação de um regime democrático, pluralista e socialmente justo, onde a riqueza criada seja instrumento de bem-estar de todos”. O mandamento, inscrito no art. 2º de nosso Estatuto, deve guiar nossas ações nesse momento nebuloso.
Não podemos olvidar o fato de que integramos o atual governo. Nesse momento em que a corda está por demais tensionada, um rompimento abrupto pode causar prejuízos incalculáveis à nação. Abandonar o barco, sem buscar soluções, é bater em retirada, é desertar, conduta que não se coaduna com nossa melhor tradição, desde Tancredo Neves à Ulysses Guimarães, de Pedro Ivo Campos à Luiz Henrique da Silveira, de buscar o entendimento em prol da democracia e da legalidade que nos guiam.
Com esse intuito o saudoso amigo Luiz Henrique se lançou em uma de suas últimas empreitadas, numa candidatura à Presidência do Senado. Apresentou-se, com a coerência que só sua trajetória política permitia, como alternativa à política baixa que hoje impera, num esforço de pacificação do ambiente político. E exatos três meses antes de partir, Luiz Henrique já alertava:
“A Nação está inquieta. O povo está aflito, nervoso, ansioso, atordoado. Há um clima generalizado de desânimo, de desalento, de descrença. Esse clima é refletido nas casas, nos clubes, nas ruas, nas praças, onde quer que o povo se reúna. E vem transbordando nas redes sociais. Alguns anos antes de morrer, o antropólogo Lévi Strauss, que morou e trabalhou no Brasil, entre 1935 e 1939, nos deixou uma grave advertência: “o Brasil corre o risco de envelhecer antes de amadurecer”. Temos, todos, a responsabilidade de não permitir que o país do futuro vire o país do passado. Somos responsáveis pelo futuro das novas gerações. Aliás, o futuro não existe. Existe o presente, que deve ser reformado, para que possamos construir o futuro”.
Em nome desses nobres companheiros, nosso partido preciso buscar a paz e o entendimento, e liderar um esforço suprapartidário em prol do desenvolvimento social e econômico do país. Nessa senda, o apoio e participação dos setores produtivos será consequência natural. Eventual ruptura com a presidente Dilma Rousseff, ainda que não possa ser totalmente descartada, deve ser tratada como última ratio, em função de seus potencias efeitos lesivos ao país.
Também por isso, nosso partido não pode omitir-se diante da situação do atual presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Seu afastamento da função, até que reste provada sua inocência, é medida que se impõe e da qual não podemos nos omitir.
Não tenho a pretensão de apresentar fórmulas definitivas, que serão construídas conjuntamente. Os anos de caminhada política e a leitura atenta da história de nosso país ensinaram que, no campo político, há sempre espaço para o diálogo e construção. Ou, como reza o adágio que sempre me acompanhou, mais valem duas horas de diálogo que cinco minutos de tiroteio.
Que o PMDB de Santa Catarina, sem omitir-se a seus deveres com o Estado e o Brasil, possa contribuir mais uma vez com o fortalecimento da democracia e respeito à legalidade.
Casildo Maldaner”
Foto: Ag. Senado, arquivo, divulgação