O desastre ocorrido em Mariana, MG, em novembro passado, ainda não teve encerrado o ciclo de danos humanos, ambientais, sociais e econômicos. Em termos penais, também está no início de seus resultados. Responsabilidades estão ainda sendo objeto de denúncias e controvérsias.
Sabe-se, porém, que é o maior do gênero ocorrido em nosso País e aponta para o “grave risco” de ser replicado em alguma das outras mais de 200 barragens ditas vulneráveis, associadas a atividades de extração de minérios em Minas Gerais.
Esse doloroso episódio evoca um desastre de maiores proporções ocorrido em 1889, que destruiu a cidade de Johnstown, na Pensilvânia, nos Estados Unidos. Morreram 2.209 pessoas numa cidade que tinha 30.000 habitantes.
Dois aspectos desse desastre merecem nossa reflexão. O primeiro envolve os processos judiciais que buscaram, sem sucesso, responsabilizar dois magnatas (considerados “titãs”) do espantoso crescimento econômico dos EUA em fins do século XIX, começo do século XX. O segundo aspecto decorre da análise do ocorrido com dois personagens que foram alvo da mídia e da opinião pública estadunidense: Henry Frick e Andrew Carnegie. Frick jamais se libertou da condenação pela opinião pública, tendo sido estigmatizado pela expressão “Homem mais odiado do país”! Carnegie, mesmo sem ter sido tão dramaticamente anatematizado, converteu-se num praticante do que podemos chamar de “atleta do remorso”. Além de ter doado milhões para a reconstrução da cidade afetada, passou a distribuir dinheiro, transformando-se num filantropo extraordinário, a ponto de ser o autor da seguinte frase: “O homem que morre milionário é um desonrado”. A “cereja no bolo” de suas ações foi ter agraciado Nova Iorque com o famoso “Carnegie Hall”, idealizado por sua esposa como forma de “fazer as pazes” com uma elite cultural que nutria ressentimentos contra esse “barão ladrão”, cuja impiedade só fora suplantada pelo insuperável Henry Frick.
Em plena semana em que os modernos filantropos se reúnem em Davos (vale a pena ler o livro de Andy Robinson, “Um Repórter na Montanha Mágica – Como a Elite de Davos afundou o Mundo”), podemos rezar – nós e o Papa Francisco – para que responsabilidades apuradas e remorsos assumidos contribuam para que o 1% que detém 99% da riqueza do mundo se mova no sentido de acudir as mazelas que a construção de sua prosperidade ajudou a agravar.
Esperidião Amin, deputado federal.