As autoridades sanitárias do município de Botuverá, interior de Santa Catarina, interromperam na metade a celebração de uma missa de Crisma presidida pelo Arcebispo Metropolitano de Florianópolis, Wilson Tadeu Jönck, que ocorria na Paróquia São José, no último sábado (28). A interrupção provocou intensa indignação nas redes sociais e em nota publicada nesta terça-feira (01), o Arcebispo comparou o ato arbitrário às perseguições ocorridas em países hostis aos cristãos.

De acordo com o pároco, padre Paulo Riffel, tudo havia sido acertado com o prefeito da cidade, que autorizara a celebração. No entanto, a Secretária de Saúde apareceu no meio da missa e, com policiais, avisou que iria entrar para interromper. “Eu me senti humilhado”, disse o pároco e considerou o fato um atentado contra a fé católica.

Conseguimos levar até o final da crisma, sendo crismados os participantes, como também na hora da comunhão foi nos avisado que iriam entrar com os policiais. Então, o bispo decidiu então fazer a oração final, agradecer e dar a benção”, contou o padre.

De acordo com o padre, os pais e padrinhos, além dos crismandos foram impedidos de comungar. “Foi um atentado contra a fé católica, contra os nossos católicos de Botuverá, foi um sacrilégio.

Segundo informações do site regional Olhar do Vale, a cerimônia da Crisma foi realizada no salão da igreja, o que, segundo o padre, passou a ser visto pela Vigilância como um evento. “Eles não aceitam isso, por favor, eu tenho um sentimento de indignação, de falta de respeito, me senti humilhado, muito triste. Saí chorando. Nossa como pode ter acontecido isso, mas estou firme e forte pela causa de Cristo, pela fé em primeiro lugar”, afirma Padre Paulo.

Segundo o Arcebispo, uma missa não pode ser interrompida no meio.

“Causa revolta, quando o argumento usado é de que pelo fato de a missa ser celebrada no salão ela se tornava um evento e este era proibido. Ora, se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, se torna difícil conversar”, diz.

“Havia uma insistência para se achar um motivo para implicar. Sinceramente, não consigo encontrar o motivo para tal implicância. Mas deve haver um motivo. Devo dizer que, pessoalmente, a parte que mais me feriu foi a ordem de interromper a missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade”.

Dom Wilson comparou o ocorrido a regiões onde são comuns os episódios de cristofobia, como países islâmicos, comunistas ou secularistas, em que cristãos são perseguidos abertamente.

“Tenho lido nos noticiários que tais fatos acontecem em regiões onde há perseguição contra os cristãos. Aproveitam quando a comunidade está reunida para atacar. Não esperava passar por esta experiência em Botuverá”, escreveu o Arcebispo.

“O diálogo sempre foi a melhor arma. Uma pena que não surtiu efeito”, disse a secretária

A Secretária da Saúde de Botuverá, Márcia Adriana Cansian, disse lamentar o ocorrido, mas justificou a interrupção alegando tratar-se de uma desobediência às normas sanitárias atuais, que levam em conta informações sobre o agravamento da pandemia.

“O diálogo sempre foi a melhor arma. Uma pena que não surtiu efeito. Respeitamos o momento dos crismandos e aguardamos que fosse finalizado. Não houve nenhuma intervenção dentro do salão e o pedido foi feito diretamente ao Pe Paulo. Considero um momento muito triste para todos nós, e que poderia ter sido evitado”, afirmou a Secretária.

Confira a Nota de Esclarecimento sobre a Missa de Crisma em Botuverá:

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Diz respeito à Nota lançada pela Prefeitura de Botuverá, no dia 30 de novembro p.p., a propósito dos acontecimentos na Missa da Crisma realizada no dia 28 de novembro na Matriz São José.

Diz a nota que tudo poderia “ser evitado com a observância às diretrizes do Estado”. Tenho a dizer que na Arquidiocese de Florianópolis são mais de 70 paróquias. Todas elas são orientadas a seguir as normas lançadas pela autoridade sanitária com referência aos cuidados preventivos com relação à COVID 19. Em todos os lugares de culto, os assentos estão demarcados de acordo com a capacidade estipulada pelos decretos do Estado, é fornecido álcool gel para todos os participantes, e é obrigatório o uso de máscara. Até agora não tivemos problemas. O nosso pedido é que se observe o que é prescrito pela autoridade. Nós nos consideramos colaboradores do Estado no seu esforço no combate à pandemia.

Também em Botuverá, tudo estava organizado seguindo à risca as normas da autoridade sanitária: distanciamento, lugares demarcados para todos os participantes, fornecimento de álcool gel. Todos os presentes usavam máscaras. O fato de que a missa tenha sido no salão deve ser visto sobretudo como um esforço para cumprir aquilo que é o espírito das normas sanitárias. Causa revolta, quando o argumento usado é de que pelo fato de a missa ser celebrada no salão ela se tornava um evento e este era proibido. Ora, se não se consegue ver a diferença entre uma missa e um baile de carnaval, se torna difícil conversar. Havia uma insistência para se achar um motivo para implicar. Sinceramente, não consigo encontrar o motivo para tal implicância. Mas deve haver um motivo. Devo dizer que, pessoalmente, a parte que mais me feriu foi a ordem de interromper a missa. E foram repetidas ameaças de que iriam entrar e acabar com a celebração. Preciso dizer que a celebração da missa não se interrompe na metade. Nos mais de 40 anos de sacerdócio, isto nunca me aconteceu. Tenho lido nos noticiários que tais fatos acontecem em regiões onde há perseguição contra os cristãos. Aproveitam quando a comunidade está reunida para atacar. Não esperava passar por esta experiência em Botuverá.

Quero, enfim, expressar minha admiração pelo povo de Botuverá, expressa em tantos momentos de sua história. Que este lamentável episódio não marque negativamente a harmonia e a convivência da comunidade.

Florianópolis, 1º de dezembro de 2020.+ Wilson Tadeu Jönck, SCJ
Arcebispo Metropolitano de Florianópolis”