Há tempos o PT vinha perdendo a primazia das ruas, uma de suas marcas de nacismento, no vácuo dos protestos dos metalúrgicos paulistas no fim da década de 1970. Desde que virou governo, o partido passou a contar com apoiadores sob soldo, seja os empregados em boquinhas nos governos, sindicatos, entidades, ONG’s, empresas terceirizadas; seja os pagos com dinheiro vivo para se “manifestar” em situações pontuais, como ficou notório em junho de 2013.
O 15 de março de 2015 foi a pá de cal. O PT perdeu completamente o poder de mobilizar a população. Até mesmo aliados do calibre de um MST e uma CUT têm ressalvas à condução do governo, como se viu na sexta-feira 13.
Outro ponto que merece destaque e estampa a gravidade do momento. Nunca antes na história recente “deste país” Luiz Inácio Lula da Silva havia sido alvo das ruas, de onde ele partiu há 40 anos para se tornar uma lenda. Palavras de ordem contra o ex-presidente foram ouvidas por todo o Brasil. Até ontem, quando o mito começou a ruir. Desconstrução que é preocupante tanto sob o aspecto governamental (o futuro do governo Dilma é absolutamente incerto), e também sob a ótica partidária. O PT encontra-se numa encruzilhada.
AS TRÊS CRISES
A crise econômica está aí. Qualquer brasileiro que levanta cedo e dorme tarde conhece bem as suas dimensões. A crise política foi cristalizada ontem, quando pelo menos 1% da população de um país gigantesco foi às ruas. Para termos uma ideia do tamanho da manifestação, os 2 milhões de brasileiros que se vestiram de verde e amarelo no domingo (!) equivalem quase à metade da população da Noruega. O segundo governo Dilma já nasceu fragilizado. Ela, desde sempre, é uma figura frágil no ambiente político nacional. Não tem carisma, tampouco empatia. Só chegou à presidência pelas mãos de Lula da Silva. Por consequência, o enfraquecimento da figura do ex-metalúrgico atinge ainda mais a atual mandatária. Por óbvio, a desconstrução do mito também atinge o coração do partido que ele criou em 1979. Assim como Dilma, o PT depende de Lula. E Lula está no corner, levando todos que dependem dele para o canto do ringue. Até porque nenhuma outra liderança de alcance nacional surgiu nas fileiras da legenda.
E a crise institucional? Esta bate às portas. Se o povo prosseguir nas ruas, a tensão vai aumentar, encurralando ainda mais Dilma Rousseff e também o Congresso Nacional. Evidentemente que não há, ainda, base jurídica para o impeachment, mas se a pressão continuar, o Congresso tende a encontrar um motivo. Rapidamente. Instinto de sobrevivência aguçado é uma das características mais marcantes dos nossos congressistas.
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