Em vídeo conferência com empresários, Moisés da Silva conseguiu novamente atrair holofotes. Da forma mais negativa possível. Ele simplesmente fez um apelo aos empresários para que boicotem financeiramente as empresas de comunicação que, de acordo com o governador de Santa Catarina, “está (ão) fazendo tudo errado.” Moisés da Silva também chegou ao cúmulo do absurdo, sugerindo ao grupo de interlocutores que a imprensa estadual não seria decente.
É a velha, manjada e ineficaz prática de tentar culpar o mensageiro pelo teor da mensagem. Ao que consta até aqui, não foi a imprensa que comprou respiradores superfaturados de uma empresa de fundo de quintal, pagando a fortuna de R$ 33 milhões antecipadamente e sem qualquer garantia.
Antes desse escândalo, o governador se viu obrigado a suspender o contrato para instalação de um hospital de campanha em Itajaí. Custaria o mimo de R$ 77 milhões enquanto hospitais de campanha sugeridos pelo Ministério da Saúde alcançam, no máximo, R$ 10 milhões. Obviamente que havia um problema grave nessa operação. Também não há notícia de que jornalistas ou empresas de mídia tenham estado na linha de frente da nebulosa condução daquele episódio.
No contexto geral o governador também vai muito mal. Está absolutamente perdido, sem noção. Encastelou-se no palácio residencial, não interage com os segmentos empresariais, não recebe prefeitos, deputados, enfim, não há o mínimo diálogo com quem representa setores importantes e estratégicos da sociedade catarinense.
Moisés também praticamente forçou aliados de campanha a partirem para a oposição ao rasgar sua pauta de campanha, que foi colada a do presidente Jair Bolsonaro. Deputados e líderes filiados ao PSL e que trabalham em 2018 não hesitam em chamar Moisés da Silva de traidor, sobretudo depois do quase noivado dele com o MDB e da aproximação célere a partidos de esquerda! Não bastasse isso, inciativas do governador, como o tal imposto verde, criado para majorar os defensivos agrícolas, impactando toda a cadeia produtiva do agronegócio e os preços na ponta, ao consumidor, deixam claro que ele vai além: trai o eleitor catarinense, majoritariamente conservador e que votou numa pauta de direita.
Isso tudo combinado com falta de ações firmes e transparentes em meio a uma crise destas proporções.
É um currículo que não credencia o senhor governador do estado a falar em decência a esta altura dos acontecimentos. E que a imprensa siga livre, atuante e trazendo à luz os malfeitos em todas as esferas do poder público.
Depois da péssima repercussão da fala do governador, sua assessoria está distribuindo a nota abaixo.
**NOTA DE ESCLARECIMENTO**
Quando discutimos respeito e ética no jornalismo profissional percebemos o quanto ele representa como fonte de informação confiável que se traduz em pilar da democracia, agindo em prol da sociedade, tendo, dentre outros, o compromissocom o interesse público. Veículos de imprensa, seus colaboradores e jornalistas são a voz dos desvalidos, são as pontes para a correção de injustiças e irregularidades, inclusive no poder público, pois descortinam o que nem sempre está às claras, investigam e promovem a justiça. Enquanto cidadão ou homem público sempre me pautei pelo absoluto respeito à imprensa e aos seus profissionais. De outra via, não posso me calar enquanto assisto uma parcela de profissionais que busca dar respostas a fatos que ainda são objeto de investigação não madura ou conclusiva, emitindo pré julgamentos, afirmando na dúvida, induzindo a opinião pública a conclusões precipitadas. Em momento algum propus cercear a liberdade de expressão de empresas ou de jornalistas. Minha fala se refere a um grupo diminuto que se utiliza do mais importante instrumento democrático – o jornalismo – para, de maneira parcial, manchar a reputação de pessoas ou instituições sem lhes permitir o direito ao contraditório e à preservação da imagem. O abandono da prudência e da espera pelo avanço ou conclusão de investigações causa, injustamente, prejuízo moral irrecuperável, incita o ódio numa sociedade tão carente de propósitos e de esperança em dias melhores. O apelo aos empresários, que também ajudam a manter o sistema de comunicação, é no sentido de reconhecer a legitimidade dos mesmos a participarem da discussão deste modelo carcomido e irresponsável, insistentemente utilizado por uma minoria, mas que tem o poder de causar profundos e irreparáveis estragos nas vidas de muitas pessoas. Seguirei firme na proteção da vida dos catarinenses em meio à pandemia, não tendo compromisso com o erro.
Carlos Moisés da Silva Governador do Estado de SC