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O Brasil gasta muito e entrega pouco

Antídio Aleixo Lunelli, deputado estadual

O Brasil tem uma conta que nunca fecha. O governo arrecada muito, mas os serviços públicos não correspondem ao que a população espera e precisa. Educação, saúde, infraestrutura e segurança são áreas que deveriam receber investimentos eficientes, mas o que vemos é desperdício, ineficiência e falta de gestão.

Um estudo recente, baseado em dados do Banco Mundial, escancarou essa realidade. O gasto público brasileiro equivale a 34,7% do PIB, praticamente o mesmo percentual dos países nórdicos, conhecidos pela alta qualidade dos seus serviços públicos. No entanto, a qualidade dos serviços entregues no Brasil é muito inferior.

Na educação, por exemplo, nossa qualidade é melhor que a média dos países latino-americanos, mas pior que a dos BRICS, dos países desenvolvidos e dos nórdicos. O pior é que, quando se analisa a eficiência do gasto, o Brasil fica na última colocação. Um exemplo prático disso é o alto custo por aluno no ensino público, que supera o de alguns países desenvolvidos, enquanto os resultados no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) continuam insatisfatórios. O Brasil gasta cerca de R$ 20 mil por aluno ao ano no ensino médio, mas nossos estudantes têm desempenho abaixo da média global.

Na saúde, a situação também é preocupante. O Sistema Único de Saúde (SUS) consome bilhões anualmente, mas a população sofre com filas intermináveis, falta de leitos e hospitais superlotados. Enquanto isso, países com orçamento proporcionalmente menor conseguem oferecer atendimento de qualidade superior. Um caso emblemático é a fila para cirurgias eletivas, que em alguns estados ultrapassa dois anos de espera.

Na infraestrutura, a diferença é gritante. Mesmo gastando mais que vários países emergentes, o Brasil tem rodovias esburacadas, portos ineficientes e uma malha ferroviária quase inexistente. Para se ter uma ideia, a pavimentação das rodovias federais custa, em média, o dobro do que em países como o Chile e a Colômbia, sem que a qualidade do serviço justifique esse custo elevado.

Esse cenário reflete a falta de gestão e a necessidade urgente de mudar a forma como o dinheiro público é aplicado. Não se trata apenas de gastar menos, mas de gastar melhor. Como empresário e gestor, sempre defendi que cada real investido precisa trazer retorno. Na iniciativa privada, ninguém sobrevive gastando mal. No setor público, essa regra também precisa valer.

Em Santa Catarina, estado que ajudo a representar, ainda precisamos de mudanças para dar mais agilidade nas entregas, mas temos exemplos de que boa gestão faz a diferença. Nosso PIB cresce acima da média nacional, nossa indústria é forte e nossos indicadores sociais são melhores que os de muitos estados. Isso é resultado de trabalho, inovação e responsabilidade com o dinheiro do contribuinte.

Se queremos um Brasil mais justo e competitivo, precisamos de uma reforma profunda no setor público. Transparência nos gastos e avaliação constante dos programas governamentais são medidas urgentes. Não podemos continuar penalizando o cidadão e o empresário com uma carga tributária sufocante sem entregar serviços de qualidade.

A sociedade já entendeu que gastar muito não é sinônimo de gastar bem. Agora, o poder público precisa entender também. O brasileiro merece mais respeito com seu dinheiro e mais resultados naquilo que realmente importa.

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