Silvio Luzardo
Julgava-se extinto! Havia indícios de que uma cultura não muito civilizada teria habitado os confins daquela região tropical. Eram os bobos. De estatura mediana, ágeis em deixar as coisas para a última hora e no fica-por-isso-mesmo, amorenados e provenientes de um caldeamento étnico peculiar, eram pacíficos e não tinham vocação para a guerra. Ficavam longe de qualquer conflito. Tolerantes e ingênuos, delegavam direitos para uma classe especial, a dos espertos. Ficavam apenas com as obrigações. Aliás, adoravam toda espécie de obrigação que significasse pagar tributos e não os exigir. Era da natureza dos bobos não reclamar. Eram pacientes nas filas de assistência à saúde, com a ausência de atendimento nos hospitais ou leitos para tratar suas dores, conformados com as promessas que não se realizavam, perseverantes em continuar como sempre tinham sido. Bobos.
Os bobos esperavam que os espertos, uma classe erigida por eles, resolvesse suas inquietações. Mas, como consta aqui no genoma, eram bobos e não queriam problemas. Os espertos construíram, com a ajuda dos bobos, uma ilha cercada de bobos por todos os lados e nela viviam em regime de grande esperteza. Os espertos, que saíram do ventre dos bobos, adquiriram status diferente. Ao serem eleitos são inoculados do vírus da esperteza. E passam a usufruir das benesses que a ilha lhes preparou. Os bobos criaram termos como “maracutaia” e “vai-virar-em-pizza”, fazem piadas sobre os espertos, cochicham nos bares, balançam a cabeça, mas continuam bobos. Os espertos sabem disso e, no “tim-tim” das viagens internacionais e no “oba-oba” das alianças de específico interesse ladino, dizem: “eis lá embaixo, dando duro para nossa realeza, o povo bobo da nossa Corte”!
Qualquer semelhança com o Brasil, tão claro quanto obscuro, na visão dos bobos e dos espertos, é “pura bobagem”. A imagem é sugestiva. Olhando para cima em cima de sua pobreza.