A frase “Popcorn and ice cream sellers sentenced for coup attempt in Brazil”, dita por Jair Bolsonaro durante o ato na Avenida Paulista, rapidamente viralizou nas redes sociais e se destacou como um dos momentos mais comentados de seu discurso. À primeira vista, poderia parecer apenas mais um tropeço linguístico ou improviso típico, mas por trás da escolha estava uma estratégia bem pensada — e com mira global.
Segundo o deputado federal Caporezzo (PL-MG), ele foi o responsável por escrever a frase após uma conversa com Bolsonaro no Palácio dos Bandeirantes. “O presidente ficou indignado com a prisão do pipoqueiro e do sorveteiro, acusados de golpe. Ele virou e disse: ‘Tem que falar isso em inglês pro mundo!’”, relembra Caporezzo. “Aí ele olhou pra mim e mandou: ‘Escreve pra mim aí, Caporezzo’. Sentei ali do lado e fiz.”
Caporezzo revelou ainda que adaptou a grafia da tradicional expressão francesa coup d’état para facilitar a pronúncia do ex-presidente. “Nos EUA também se usa essa expressão. A gente só deu uma abrasileirada pra encaixar no estilo dele”, explicou.
O que alguns interpretaram como mais um momento pitoresco virou, na verdade, um caso exemplar de comunicação política com objetivo bem definido. A simplicidade do inglês usado, somada à referência a dois trabalhadores populares — Otoniel da Cruz (sorveteiro) e Carlos Eifler (pipoqueiro) — gerou empatia imediata, além de criar um grande contraste emocional: gente humilde sendo enquadrada por um crime de Estado.
A mensagem estava clara: internacionalizar a crítica aos julgamentos do 8 de Janeiro e sensibilizar a opinião pública com uma narrativa de injustiça social. E o plano deu certo. A frase percorreu o mundo, virou meme, apareceu na imprensa internacional e engajou milhares nas redes — tudo de forma orgânica.
Ao escolher personagens do cotidiano, Bolsonaro evitou jargões jurídicos e se apoiou em um apelo emocional direto. A lógica é simples e eficaz: transformar uma denúncia institucional em um drama humano, com nomes e rostos facilmente reconhecíveis.
Muita gente da esquerda achou que era piada. Mas, sob a ótica da comunicação, foi um movimento inteligente. Em vez de falar de jurisprudência ou habeas corpus, ele falou de pipoca e picolé. Quem nunca comprou um na rua?
Mais do que uma frase isolada, o episódio mostra o quanto uma fala bem pensada, e uma narrativa bem construída pode potencializar carreiras políticas. Em tempos de redes sociais e guerras de narrativa, comunicar com emoção — mesmo em inglês básico — pode surtir mais efeito que discursos técnicos ou documentos extensos.
Entre críticas, risadas e milhares de compartilhamentos, o “popcorn and ice cream” virou símbolo de estratégia e planejamento na comunicação. Em política, forma e conteúdo caminham juntos — e, nesse caso, foi justamente o jeito de falar que garantiu que a mensagem chegasse tão longe.
Guilherme Pontes
Marqueteiro, consultor político e eleitoral