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Os 190 anos da imprensa catarinense

Déborah Almada
Jornalista e Presidente da Associação Catarinense de Imprensa

“A melhor fotografia de um povo civilizado é a sua imprensa. Ela é o reflexo vivo, luminoso, radiante, de suas características morais e intelectuais”. Assim o célebre historiador Lucas Alexandre Boiteux inicia o texto A Imprensa em Santa Catarina, publicado em livro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina sobre os jornais que circularam no estado a partir de 1831. Essas palavras precisam ser lembradas e relembradas todos os dias – e com ainda mais intensidade no 28 de julho.

A primeira “melhor fotografia” do catarinense foi tirada justamente em um 28 de julho, no longínquo ano de 1831. O responsável por colocar no prelo “as características morais e intelectuais” do catarinense foi o jovem Jerônimo Coelho. Sua experiência com o primeiro jornal da província – O Catharinense – durou pouco, mas é apontada por historiadores como o embrião da imprensa do Estado. Já na primeira edição, uma verdadeira profissão de fé exemplar: “não me demorarei em enumerar-vos as vantagens que resultarão da liberdade de imprensa; só vos direis, que esta divina instituição, foi, é e sempre será uma barreira invencível onde se despedaçam as fúrias dos tiranos do Universo”.
Lá se vão 190 anos e a defesa intransigente da liberdade de imprensa defendida pelo pioneiro Jerônimo Coelho segue essencial. Pesquisa recente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) mostra que em janeiro de 2021 houve 26 ataques a jornalistas ou veículos no País. Para se ter ideia do tamanho do problema, em 2020 haviam sido 11 ataques.
O quadro obriga a lembrarmos da importância da data e também celebrarmos o significado histórico do fazer jornalístico. Mais uma vez recorro ao O Catharinense: “se não fosse a liberdade de imprensa, os povos ainda hoje estariam jazendo na estúpida e crassa ignorância”.
A imprensa catarinense tem uma história gloriosa, com inúmeras contribuições à construção de uma sociedade democrática e justa. Por certo, parte dessa trajetória é reflexo da herança do patrono fundador d’O Catharinense. O legado de Jerônimo Coelho permanece.

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