Núcleo de Cooperativas da ACIC Chapecó promoveu evento que discutiu o cenário econômico e seus reflexos regionais
Agronegócio, exportação, construção civil, política monetária, cooperativismo, perspectivas econômicas globais, desafios e oportunidades do setor agropecuário. Esses foram os assuntos abordados no “Bate-Papo Cenário Econômico Regional”, promovido nesta semana pelo Núcleo de Cooperativas da Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC). O evento reuniu aproximadamente 250 cooperados na Associação Atlética Recreativa Alfa (AARA).
O painel iniciou com explanação do economista Diogo Testa, gerente de finanças do Sicoob MaxiCrédito, que falou sobre “Política Monetária Brasileira”. Ele fez um relato dos problemas mundiais ocasionados pela pandemia e as estratégias do governo brasileiro para controlar a inflação e estimular a economia. Reforçou que neste ano a inflação vai estourar o teto da meta, que é de 3,5%. “Existia a perspectiva de atingir o centro da meta neste ano, mas isso ficará para 2023”, frisou, ao acrescentar que espera-se que o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano cresça mais que 2%. Porém, em 2023 deve ficar próximo a zero. “Passamos pela pandemia, baixamos juros e injetamos dinheiro na economia, mas tudo tem um custo e isso ainda será pago em 2023. Contudo, tem uma série de questões que colocam o Brasil numa situação privilegiada em médio prazo, como o cenário externo. Eu tenho expectativas boas para o País”, concluiu.
Dando sequência ao tema, o economista Humberto Canova, assessor de investimentos do Sicredi, abordou as “Perspectivas Econômicas Globais e seus Impactos”. Explicou que os países estão posicionados no combate à inflação e esse é o maior desafio de todos os bancos centrais. Canova dividiu o processo inflacionário mundial em três núcleos: quem foi proativo e o Brasil está nesse grupo, já colhendo os frutos de ter feito política monetária assertiva; os países retardatários, sendo que nesse núcleo está a União Europeia que tardou em assumir que a inflação se estabeleceu no mundo e está comprometendo o poder de compra da população e desencadeando problemas maiores do que recessão; e aqueles países que são atípicos, como a China e a Rússia.
“A China manipula o mercado e reduz juros para mitigar a recessão e a Rússia, devido a guerra, está reduzindo juros para poder aumentar sua atratividade econômica”, relatou. Canova citou problemas ocasionados com a desregulamentação de estoques e matérias-primas. O efeito para 2023 é um crescimento zero na economia global, além da desvalorização do real frente ao dólar e ao euro. “Porém, para o Brasil a expectativa é boa, pois o País deve se privilegiar pelas matérias-primas que tem e pela dependência de outros países da nossa produção”, salientou.
TECNOLOGIA E EXPORTAÇÃO
“Cooperativismo Financeiro e Tecnologia” foi o tema abordado pelo diretor presidente do Sicoob Advocacia, Fabiano Valente Sardá, formado em Ciência da Computação e com carreira no mercado financeiro há 36 anos. O especialista fez uma abordagem histórica das tecnologias usadas pelos bancos. “Existia no passado muito processo manual que hoje em dia nem se consegue imaginar. Atualmente, temos uma instituição financeira no bolso, com o celular”, comentou. Sardá reforçou que a tecnologia veio para auxiliar e o movimento de digitalização e automatização busca eficácia e eficiência, produtividade, agilidade, proteção de dados e segurança. Ressaltou que com isso as cooperativas precisam ter estratégias para se manterem próximas dos cooperados, pois esse é seu grande diferencial.
O especialista em Gestão de Cooperativas e diretor de exportação da Aurora Coop, Dilvo Casagranda, explanou sobre os “Impactos das Exportações no Cenário Econômico do Oeste Catarinense”. Citou a evolução tecnológica na cadeia produtiva de alimentos que proporcionou maior produtividade e ressaltou que o trade mundial de alimentos está aberto e continua crescendo. Enfatizou que o Brasil precisa aproveitar as oportunidades. “Em 2050 o mundo terá 9,7 milhões de habitantes, com crescimento principalmente na Ásia e na África. É preciso olhar para o futuro e ver onde estão as oportunidades de acordo com o que produzimos, se queremos atender em volume ou em especificidades do mercado”, expôs, ao acrescentar que o Brasil é competitivo e tem produtos de qualidade, porém, há desafios estruturantes a serem vencidos.
O engenheiro agronômico e 1º vice-presidente da Cooperalfa, Cládis Jorge Furlanetto, falou sobre “Desafios e Oportunidades para o Setor Agropecuário”. Para ele, uma preocupação é a falta de mão de obra, mas quem está no campo está produzindo com eficiência maior. Furlanetto citou a necessidade de melhorar a infraestrutura viária, a energia elétrica e a internet no meio rural, além de desburocratizar os processos para licenças ambientais. Mencionou também como desafio a questão tributária. “Acredito muito no setor e com essas questões resolvidas terá ainda mais sucesso”, analisou.
CONSTRUÇÃO CIVIL
A última explanação do evento foi sobre “Indicadores Imobiliários Nacionais” com o economista Cesar Augusto Fabre, diretor executivo de riscos e administrativo da Credcrea, que apresentou dados sobre o crescimento do setor e a geração de empregos. A construção civil gerou, até março deste ano, mais de 155 mil novas vagas de trabalho no País. De acordo com Fabre, não havendo novos lançamentos imobiliários, o estoque atual se esgota em 9,9 meses. “A tendência do mercado e a expectativa para 2022 é de estabilidade nos números de unidades vendidas e lançadas. Contudo, o mercado continua sendo bastante afetado pelo preço dos insumos”, enfatizou, ao acrescentar que os lançamentos, vendas e oferta final do Programa Casa Verde Amarela caíram no segundo trimestre deste ano. “Os números refletem o descompasso do programa com o poder de compra da população”, disse, ao acrescentar que apesar da queda nos financiamentos, a concessão de crédito imobiliário está resiliente e há demanda. “Os números mostram que a atividade está mais aquecida do que as projeções do mercado no início de 2022”, finalizou.
O painel foi mediado pelo advogado e especialista em Cooperativas e Gestão de Cooperativas Leonardo Rafael de Souza, assessor jurídico da Cooperativa Coeducars. O presidente da ACIC, Lenoir Broch, salientou as bandeiras da entidade, como a busca por melhorias em infraestrutura, ações sociais e a cobrança pela reforma tributária. A diretora de Desenvolvimento de Núcleos, Cleunice Zanella, observou que o Núcleo de Cooperativas – que iniciou atividades no ano passado – é o mais recente entre os 13 núcleos da ACIC e que veio para fortalecer o cooperativismo e o associativismo.
O coordenador do Núcleo de Cooperativas, Fernando Rebelatto, realçou que todos os painelistas são especialistas das cooperativas nucleadas e que o evento veio ao encontro de princípios do cooperativismo, como educação, formação e informação, intercooperação e interesse pela comunidade.