A semana passada foi pródiga em movimentos de arrepiar. Tudo protagonizado por cabeças coroadas do PMDB. Depois de patrocinar a eleição do investigado Eunício de Oliveira à presidência do Senado (o que o coloca na linha sucessória presidencial), Michel Temer guindou o amigo Moreira Franco, outro investigado, à condição de ministro. Automaticamente, ele passou a gozar do foro privilegiado. Alguém nessa condição só pode ser processado no âmbito do Supremo Tribunal Federal, que tem um corpo 11 ministros abarrotados de ações.
Ato contínuo, os bravos do PMDB no Senado estão entrincheirados para transformar Edison Lobã (foto interna), também processado, em presidente da poderosa Comissão de Constituição e Justiça do Senado. A manobra tem o apoio de José Sarney, pai da suspeitíssima Roseana Sarney. Caso o arranje prospere, significará que o notório Lobão, mesmo na mira da Justiça, poderá presidir duas sabatinas estratégicas neste ano: a do novo ministro do STF, a ser indicado por Temer à vaga de Teori Zavascki; e a do próximo procurador-geral da República (Ministério Público), já que o mandato de Rodrigo Janot termina em setembro. Tamanha movimentação só confirma o deboche de autoridades que pisoteiam o interesse público em detrimento de posicionamentos puramente pessoais.
Pra coroar este início de 2017, Michel Temer indicou para a vaga de Teori Zavascki, o ex-ministro da Justiça, Alexandre Moraes (foto de capa), que até ontem era o advogado do governo. Além de ser filiado ao PSDB, umbilicalmente ligado a Geraldo Alckmin e, pra fechar, fez a defesa de Eduardo Cunha! Uma verdadeira temeridade o que estão fazendo politicamente!
Em tempo: Evidentemente que o presidente tem o direito de nomear seu ministro da Justiça para o STF. Desta forma, procederam José Sarney (Paulo Brossard), Fernando Henrique Cardoso (Nelson Jobim), Lula da Silva (Dias Toffoli, que foi advogado do partido, e Ayres Britto, que chegou a ser presidente do PT de Sergipe). Considerando-se, contudo, o momento político, no contexto da Lava Jato, com o próprio Temer arrolado nas investigações e citado em delações, assim como grande parte da cúpula do PMDB, a escolha deveria recair sobre um nome técnico. Não se fala aqui da qualificação de Moraes (ele tem formação, é preparado), mas o momento foi absolutamente equivocado.