O clima não está dos melhores na cúpula do PMDB de Santa Catarina. Em reunião da executiva estadual, na manhã desta segunda-feira (30), em Florianópolis, os líderes do partido formalizaram a orientação para a não participação de filiados e delegados na convenção nacional da sigla, que será realizada no próximo dia 7, em Brasília, conforme nota oficial (reproduzida abaixo, na íntegra). Os peemedebistas também avaliaram positivamente a realização das 295 convenções municipais do partido e definiram a realização da convenção estadual da JPMDB, no dia 2 de dezembro.
Maravilha. Mas a seção Barriga-Verde do Manda Brasa está adotando posições curiosas. É uma tentativa legítima de se descolar, a qualquer custo, da nacional. Pode até fazer sentido. Agora, como a opinião pública vai avaliar tudo isso é que é a grande incógnita.
Na primeira quinzena de setembro, o presidente estadual do partido, Mauro Mariani, anunciou que pediria a renúncia de parte da executiva nacional do PMDB. Obviamente que não deu em nada. Agora, o comando estadual vai marcar posição, simplesmente não mandando ninguém para a convenção nacional. Se o posicionamento, extremo, vai funcionar perante o eleitorado, só o tempo dirá. O fato é que, se for feita uma avaliação mais minuciosa em cima dos 20 principais nomes do PMDB nacional, não escapa um. Todos ou são réus, ou já estão indiciados ou sob investigação da Lava Jato e de outras operações.
Postura isolada
Outra questão que não pode ser desconsiderada é a mudança de Mauro Mariani, votando, semana passada, pelo prosseguimento da segunda denúncia de Janot contra Michel Temer.
No Estado, fez-se a leitura de que o presidente do partido combinou com os outros quatro deputados federais que eles ajudariam a salvar o correligionário e votariam (como votaram) com o presidente da República; e ele, Mariani, como pré-candidato ao governo, iria se preservar de acordo com o desejo da maioria da opinião pública. Mas não foi nada disso. Não houve combinação. A mudança de Mariani, sinalizando que votaria contra Temer, ocorreu na última hora e pegou os seus colegas deputados federais pelo PMDB de Santa Catarina de surpresa. A contrariedade é grande. Os quatro (Ronaldo Benedet, Rogério Peninha Mendonça, Valdir Colatto e Celso Maldaner) estão se sentindo mais menos como o famoso boi-de-piranha, que é largado na frente dos outros para ir ao sacrifício e liberar a passagem dos demais. Está arranhada a convivência do pré-candidato com os outros quatro federais da sigla. Pode haver respingos, ainda, na própria convivência partidária e na musculatura do presidente à frente do PMDB e do projeto majoritário de 2018.
Dois pesos
Na primeira denúncia de Janot contra Temer, Mauro Mariani votou fechado com o Planalto. Foi um dos votos que ajudou o presidente a ter placar mais folgado do que na votação da semana passada. Agora é aguardar a reação dos catarinenses. A dúvida é saber se esse tipo de guinada não acaba gerando ainda mais desgaste. Pode passar a impressão, de alguma maneira, de que os pesos e medidas diferentes nas duas denúncias seriam uma forma de escamotear a opinião pública. Será que o desgaste do senador Paulo Bauer, por exemplo, não será menor? Como líder da bancada tucana na Câmara Alta, ele encaminhou voto para preservar o mandato de Aécio Neves e permanece ao lado de Temer. Mesmo o presidente amargando impopularidade que beira índices muito próximos de zero. Será que assumir claramente a posição, mesmo que no contra-fluxo da opinião pública, não é menos desgastante do que essas chicanas que carecem de muitas explicações? A conferir!
“N O T A O F I C I A L
A finalidade da vida pública, evidentemente, busca o desenvolvimento, e o progresso da sociedade sob todos os seus aspectos. Aliás, a vida pública é essencial em qualquer sociedade que aspire à justiça social.
Pode-se dizer que se trata de um processo que dura a vida inteira, não se limitando à simples continuidade, mas considera a possibilidade de rupturas pelas quais a cultura se revigora e se produz a história.
Todavia, é importante visão de conjunto, isto é, nunca analisa o problema de maneira parcial, mas sempre sob uma perspectiva que relacione cada aspecto com os demais.
Assim, discordar do erro não configura dissidência, mas dever e possibilidade inerente a todo o partido democrático, sobretudo em se tratando do PMDB, que elaborou a sua história com a bandeira da democracia.
Além disso, todos podem externar pontos de vista e posições política.
Portanto, o princípio básico de abordar as situações demanda perspectiva de conjunto. É neste contexto que o PMDB / SC orienta seus filiados e sobretudos os delegados ao não-comparecimento à Convenção Nacional do Partido.
Por fim, fica formalizado sua discordância com a continuidade à frente do Partido de pessoas cuja substituição se faz urgente.
Florianópolis (SC), em 30 de outubro de 2017.”