Médico cancerologista e radioterapeuta
Certamente não há lugar a qualquer reflexão relativa a atos bélicos, com toda a violência e sofrimentos decorrentes, independentemente de razões históricas ou atuais. Sempre haverá razões e desrazões, na dependência de óticas individuais ou coletivas. Salomonicamente me concedo o direito à abstenção, neste momento. Quero, no entanto, pretender visualizar, mesmo que de forma muito precoce, um saldo positivo, criticável ou retrógrado, segundo determinadas óticas, que é o renascer explícito novamente, da composição multipolar, da reorganização do poder global.
Riscos sem dúvida haverão. Porém, sua procedência terá, novamente, uma locariedade mais compatível com nossa estrutura de criaturas humanas. Razões e emoções terão novamente focos e, por decorrência, parceiros ou oponentes, passíveis de compreensão e justificativa, razões atendendo à lógica do complexo, nosso berço formatador. Haverá novamente uma convocação à territorialização, com todas suas decorrentes virtudes e defeitos, porém, novamente subordinados a nossos processos humanos e, evolutivamente, biologicamente definidos.
Restará à cultura, geracional, a discussão dos erros e acertos decorrentes do ato vivencial, por si só heterogêneo. A perda da territorialização, decorrente da falsa pretensão a comando único, edificou um poder, um comando pseudo globalista, pseudo justificativo, de dimensões brutais, que foge até à esfera das Nações e Estados, subsidiando à pseudo liberdade das enormes corporações. A partir dessa ótica, visualizo a possibilidade de que, sob o enorme e acolhedor guarda-chuva humano, comum a todos desde o nascimento, possamos reorganizar nossas tribos, nossas percepções, crenças, nossos blocos, nossos sentidos vivenciais, refreando a besta aparentemente indomável da hipermídia e do hipercapital, aos quais a ideia de território ou diferenças de qualquer ordem, soa como inimigos a serem combatidos em nome da utópica e disfuncional globalização.
