Na teoria, o índice é preocupante: apenas um em cada quatro catarinenses tem acesso ao serviço de coleta e tratamento de esgotos. Na prática, a realidade é vexatória: basta uma simples caminhada ao lado de rios que cortam grandes cidades catarinenses e de imediato se percebe o despejo de esgoto de maneira totalmente inadequada, o que compromete a limpeza urbana, a balneabilidade das praias e causa degradação ambiental. Inadmissível constatar que o estado, um dos litorais mais belos do País, sofre com a situação que compromete atividades como o turismo e causa sérios riscos à saúde pública.
Hoje, a importância da distribuição de água tratada e da coleta e tratamento de esgoto é indiscutível. Estudo do Trata Brasil, organização que desenvolve pesquisas sobre o tema, mostra relação direta entre os indicadores de acesso a esses serviços e a redução da incidência de doenças de veiculação hídrica. Entre 2005 e 2019, por exemplo, o número de brasileiros com acesso aos serviços de coleta de esgoto passou de 36,3% para 54,1%. Nos mesmos 15 anos, mostra o relatório da pesquisa, houve “uma retração de 60,4% na taxa de incidência de internações por doenças gastrointestinais infecciosas no Brasil”.
O resultado é positivo. Infelizmente, por outro lado, ainda há muito a ser feito. Outro estudo do Trata Brasil tem foco específico na situação registrada em Santa Catarina. Em 2019, diz a pesquisa, pouco mais de 24% dos moradores do estado tinham acesso ao tratamento de esgoto. No ano, o estado registrou 7413 internações hospitalares e 93 mortes causadas por doenças de veiculação hídrica. “A incidência de internações foi de 1,035 casos por 10 mil habitantes”. O índice é superior à média dos estados do Sul – 0,927 casos por 10 mil/hab – e fica abaixo da média nacional 1,304 casos por 10 mil/hab.
A situação catarinense não é a mais crítica do País. Ainda assim, é fato que a falta de infraestrutura causa doenças e sofrimento aos indivíduos e gastos desnecessários, que consomem o orçamento público. Problemas que poderiam ser evitados ou, pelo menos, minorados. Profissionais da saúde devem estar atentos ao problema. A prevenção, todos sabemos, é o melhor caminho para a promoção da saúde.