Santa Catarina, mas particularmente a cidade de Balneário Camboriú, transformaram-se no estado e na capital do conservadorismo mundial. A “Dubai brasileira” foi palco da segunda edição de um evento realizado já há mais de 50 anos, nos Estados Unidos, e que veio para o Brasil pelas mãos do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Foi a segunda edição versão nacional.
Reuniram-se no Expocentro personalidades internacionais, com destaque, é claro, para o presidente argentino, Javier Milei, na sua primeira visita em solo brasileiro. Não foi a Brasília, não foi com o atual inquilino do Palácio Planalto; foi em Balneário Camboriú, Santa Catarina, justamente com seu antecessor, Jair Bolsonaro.
E com outro detalhe. Começou ontem, segunda-feira, a reunião da Cúpula do Mercosul, no Paraguai, em Assunção, rodada da qual o presidente argentino não participará. Quer distância de Lula da Silva. O hermano pode ter seus rasgos de intolerância, de impulsividade, mas é transparente. E fez uma opção. Veio para o evento conservador, com o antecessor de Lula, e não vai para o encontro do Mercosul com o atual presidente brasileiro. Simples assim.
Perfil de SC
Mas vamos avaliar o que esse evento representa. Primeiro, significa que Santa Catarina é também o centro do conservadorismo brasileiro.
Comparativo
Qual é o outro estado em que Bolsonaro tenha tido uma votação tão expressiva nas últimas eleições — que ele ganhou em 2018 e na qual foi supostamente derrotado em 1922 — quanto em Santa Catarina?
Relevâncias
Sim, houve votações até maiores proporcionalmente no Acre, em Rondônia e em Roraima.
Que não figuram entre os dez maiores estados brasileiros, as dez maiores economias brasileiras, os dez maiores colégios eleitorais. Embora ainda não tenha um número de eleitores tão expressivo, SC, por exemplo, é a sexta maior economia do Brasil.
Realidade
Bolsonaro realizou pouco em Santa Catarina nos seus quatro anos. Trouxe poucos recursos e investimentos. Isso, contudo, é outra questão. Não entraremos nesse mérito. Avalia-se, neste momento, a realidade político-partidária eleitoral do conservadorismo na figura de Bolsonaro.
Inapelável
É uma realidade inquestionável. Tanto é que ele elegeu um ilustre desconhecido, que voltou para o anonimato, chamado Carlos Moisés da Silva. O cidadão resolveu achar que ele que tinha dado os votos para Bolsonaro em 2018. Engano bizarro, surreal. Maior prova disso é de que nem para o segundo turno ele foi em 2022. Mesmo estando no exercício do governo do estado.
Relevante
Há dois anos Jorginho Mello disputou eleição sozinho pelo PL. Era senador da República. Também foi duas vezes deputado federal, quatro vezes deputado estadual, presidente da Assembleia, vereador e diretor tecnologia do Banco do Estado de Santa Catarina, o extinto Besc.
Incógnita
Apesar do currículo vitorioso, será que o atual governador conquistaria a vitória sem o 22 de Jair Bolsonaro nas urnas. Assim como em 2018 foi o 17 do PSL? Muito provavelmente não.
Incomparáveis
Claro que não há como estabelecer um paralelo entre Moisés e Jorginho. Evidentemente que não. Jorginho já tinha uma estrada, tinha um currículo, diferentemente de Moisés, que era mais um coronel da reserva do Corpo de Bombeiros.
Sinal
De qualquer forma, isso evidencia muito claramente que Santa Catarina é o estado, dentre os principais, mais bolsonarista e mais conservador do Brasil. Quer queiram ou não, quer gostem ou não, essa é a grande realidade. E ponto final.
Aleluia
Outro detalhe. Santa Catarina nunca foi administrada por um político esquerdista. Jamais. Pedro Ivo Campos, Paulo Afonso Vieira, Luiz Henrique da Silveira, todo eram do MDB conservador moderado. Faziam parte do grupo de Ulysses Guimarães. Se, lá em 1982, no restabelecimento das eleições diretas nos estados, Jaison Barreto tivesse derrotado o Esperidião Amin, aí tudo bem. Teríamos tido um governador canhoto por convicção e atuação.
Esquerda
Jaison era do grupo dos autênticos, composto por figuras como Fernando Lira, Chico Alencar, da Bahia, e tantos outros, mas perdeu o pleito para Amin.
Raspando
Foi por menos de meio ponto porcentual, coisa de 12.500 votos à época. Mas perdeu. Também tivemos José Fritsch, do PT, que, em 2002, por menos de 3%, não foi para o segundo turno justamente contra Esperidião Amin, candidato à reeleição. Quem beliscou a vaga foi Luiz Henrique, que acabou por desbancar Amin no segundo turno.
Marca
Mas, agora em 2018, Décio Lima foi para o segundo turno. Pela primeira vez um nome de esquerda chegou ao round final em SC. Resultado? 70% a 30%. A vantagem de Jorginho Mello foi um pouquinho maior em relação a Décio do que a de Jair Bolsonaro em relação à Lula da Silva.
Rancor
Aliás, Lula da Silva não vem a Santa Catarina porque não se conforma. Tendo sido duas vezes presidente da República, na sua quinta disputa eleitoral à Presidência, em Santa Catarina a deidade vermelha fez pouco mais de 30% dos votos.
Passado distante
Vale lembrar que, lá em 2002, quando ele se elegeu, no primeiro turno em Santa Catarina, o petista fez a maior votação proporcional do país.
Sedimentado
Trocando em miúdos. Esse evento mostra muito bem a fortaleza de Jair Bolsonaro entre os catarinenses e, também, indiscutivelmente, hoje, a força política do governador. Por extensão.
Pilares
Primeiro porque Jorginho realiza um bom governo e segundo porque está absolutamente alinhado a Jair Bolsonaro. Aliás, o governador embarcou, nesta segunda-feira, para Portugal. Ficará uma semana fora. Como governador em exercício, temos um emedebista, o presidente da Assembleia Legislativa, Mauro de Nadal.
Alô, MDB
É mais um gesto do governador na direção de uma aproximação do MDB com o PL, dentro do projeto de recondução de Jorginho Mello, que está pra lá de bem pavimentado.
foto>reprodução, redes sociais / Da E para a D: Jorginho Mello, Karina Milei (irmã do presidente argentino), Jair Bolsonaro, Javier Milei, Tarcísio Freitas e Eduardo Bolsonaro