Manchete

SC perde Mário Petrelli

O texto é do portal do Jornal Notícias do Dias, do grupo ND.

“O advogado e empresário foi responsável pelo crescimento na área de comunicação em Santa Catarina. O catarinense Mario Petrelli tinha 15 anos quando se mudou para a capital paranaense. Cursou Direito na Universidade Federal do Paraná e foi executivo de uma empresa de seguros. Na década de 1970, surgiu a oportunidade de adquirir uma emissora de televisão, a TV Coligadas, de Blumenau.

Essa foi a base do que se tornou o Grupo RIC, com sedes no Paraná e em Santa Catarina. Atualmente nomeado Grupo ND, em Santa Catarina, o conglomerado de mídia engloba NDTV, o jornal impresso ND e o portal nd+, além de revistas, a Record News, uma rádio e uma plataforma jovem, em Santa Catarina.

Por tudo o que Mario Petrelli representou na história da comunicação catarinense, será decretado luto oficial de três dias em Florianópolis.”

TEXTO, BRILHANTE, DO COLEGA E AMIGO MOACIR PEREIRA TRAZ MINÚCIAS DA PERDA GIGANTESCA QUE REPRESENTA A MORTE DE MÁRIO PETRELLI.

FAÇO MINHAS, AS PALAVRAS DE MOACIR!

PETRELLI: MORRE A MAIOR ENCICLOPÉDIA SOBRE OS BASTIDORES DA POLÍTICA EM SC

“O inesperado falecimento do empresário e jornalista Mário José Gonzaga Petrelli não deixa o convívio de familiares e amigos apenas um homem generoso, sensível, culto, honrado, solidário e de grande espírito patriótico. Perde o Brasil uma das lideranças com maior trânsito em todos os escalões do governo federal, do mundo econômico e financeiro e do cenário politico.
E, sobretudo, Santa Catarina está profundamente enlutada a partir deste 22 de abril porque sua excepcional memória política desaparece com a triste noticia do falecimento do visionário e arrojado empreendedor.
Dr. Mário, como era carinhosamente chamado por todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver, era um espírito aberto, altamente democrático, que convivia com pessoas de todos os níveis, credos, raças, ideologias, partidos e religiões.
Era um catarinense de perfil raro, nascido em Florianópolis em junho de 1935. Pai engenheiro, foi trabalhar nos portos de Laguna e Itajaí. Nas duas cidades, o filho fez os primeiros estudos. Impressionava, nas conversas informais, a privilegiada memória, lembrando nomes, episódios e fatos históricos de sua passagem ainda criança pela terra de Anita Garibaldi.
Neste início do século XXI não havia no Estado nenhuma outra liderança tão viva, inteligente e aguçada, com tamanha participação nos episódios políticos registrados nos últimos 60 anos em Santa Catarina e no Brasil, como o dr. Mário Petrelli.
Costumava reproduzir, com invejável clareza e riqueza de detalhes, reuniões decisivas de grande lideranças para indicação de candidatos, conversações para alianças politicas, articulações sobre projetos de interesse do Estado em Brasilia.
Dr. Mário notabilizou-se, em primeiro lugar, como advogado em Curitiba. Colega de Faculdade de nomes da expressão de Renê Dotti, um dos maiores criminalistas vivos do Brasil, e muito bem relacionado com as lideranças estaduais do Paraná, dedicou-se depois ao setor de seguros, onde criou inúmeros projetos inovadores, tornando-se um dos homens de visão na Diretoria da Atlântica Boa Vista, depois do Bradesco Seguros e, finalmente, do poderoso grupo Icatu. Por estas e outras atividades transformou-se num dos catarinenses com maior trânsito entre banqueiros, financistas e os maiores nomes do empresariado brasileiro.
Quando José Sarney, seu amigo de décadas pelos vínculos de origem de sua mãe Alice Petrelli, assumiu a presidência da Republica, foi convidado para assumir a Diretoria de Crédito Industrial e Comercial do Banco do Brasil, onde também implantou programas de incentivo ao desenvolvimento do setor produtivo do país.
Participação mais forte, nas últimas décadas, deu-se na área da comunicação, a partir de experiência no setor de seu filho Leonardo Petrelli. Ex-diretor da Globo no Rio, Leonardo liderou o processo de criação da RIC-Rede Independência de Comunicação no Paraná.
Em Santa Catarina, o pai conquistava a concessão de emissoras de televisão, lançando a semente do que hoje é a ND Comunicação, com quatro estações de televisão, um jornal diário e portal de notícias.
Mário Petrelli ficou viúvo da esposa Dirce em 2007. Com ela teve quatro filhos: Luciana, Leonardo, Mário e Marcelo, este o mais moço que fez longo estágio na comunicação nos Estados Unidos, liderando nos últimos 30 anos o crescimento de um dos maiores grupos de comunicação do sul do Brasil. Casou-se há oito anos com a sra. Mônica Buffara, exemplar companheira.
Entre os incontáveis amigos era conhecido, sobretudo, pela alma generosa. Não conheceu um único desafeto. Tinha trânsito com líderes de partidos de esquerda pelo tratamento respeito que lhes dedicava.
Difícil encontrar, também, um homem tão voltado ao trabalho como ele. Os mais íntimos costumavam brincar, dizendo que ele estava sempre embarcando ou saltando de um avião para cumprir alguma missão.
Outra características extraordinária: não largava o telefone. Com a chegada do celular, ficou ainda mais escravo da comunicação digital.
Não tinha o hábito de usar o computador, mas operava outro milagre. Vivia enviando mensagens para os mais chegados, sugerindo, aconselhando, incentivando, dando notícias, enfim, fazendo o bem aos interlocutores. Impressionante: era tudo manuscrito. Passava as mensagens para a secretária que as enviada pelo correio eletrônico.
Seus apartamentos na avenida Beira Mar Norte ou na Praia Braba no verão, eram alvos de romarias diárias. Familiares, amigos, parlamentares, políticos, líderes empresariais – todos o procuravam para aquela conversa amena, o relato histórico saboroso, a revelação de fatos políticos guardados em segredo ou a troca de ideias sobre Santa Catarina e o Brasil.
Não foram poucas as vezes, durante décadas, em que, entusiasmado com seus relatos, convidei-o para gravar entrevistas que seriam transformadas num livro de conteúdo biográfico. Exageradamente cuidadoso – para não ser indiscreto suponho – declinou de todos os convites com aquele cavalheirismo que lhe era peculiar.
Dr. Mário ficava lisonjeado quando o homenageavam como jornalista. Referência merecida. Além de um criativo homem de comunicação, tivera larga experiência quando jovem no jornal “A Tarde”, de Curitiba, além de redator de outros veículos na cobertura dos trabalhos da Assembleia Legislativa do Paraná.
Fatos que talvez expliquem o carinho especial que dedicou durante décadas à Associação Catarinense de Imprensa, em todas as atividades culturais, sociais e corporativas, transformando-se, no dizer do presidente Ademir Arnon, no “Grande Benemérito”.
Com o procurador Georgino Melo e Silva, amigo pessoal, costumava dividir presença nas missas do meio dia na capelinha de Nossa Senhora do Parto, centro histórico de Florianópolis.
Impossível contabilizar seu espírito solidário, com as contribuições silenciosas que dava com frequência a instituições sociais, comunitárias e carentes de Florianópolis e Santa Catarina.
O Estado respeita, por isso e muito mais, um profundo luto. Perdeu um notável filho, homem que se fez humilde e construiu uma singular biografia. E que se despede desta vida com memorável obra para enriquecer com nobres virtudes e qualidades humanas o paraíso celeste.”
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