A servidora aposentada Maria Salete de Souza Neto, que por 22 anos atuou como assistente social forense, com serviços prestados em diversas comarcas do Oeste – Concórdia, Xaxim, Itá e, por fim, Chapecó –, acaba de lançar sua primeira obra literária: “A vida surpreende: vivências no serviço social”. Os últimos 12 meses de inatividade profissional, que já alcança cinco anos, foram aproveitados por Maria Salete para trabalhar nesta obra, antigo sonho agora concretizado, em que apresenta 22 causos e casos, como ela mesma define, sobre sua trajetória no dia a dia forense.
“A intenção inicial para escrever o livro foi a de presentear a mim mesma e a todos que passaram por minha intervenção profissional, mas também homenagear personagens que contribuíram para que ela se concretizasse da melhor forma possível dentro de minhas limitações pessoais, profissionais e institucionais”, conta a assistente social. É inegável que, apesar de ser uma exposição técnica das vivências profissionais, os relatos trazem muita pessoalidade. Os locais citados são reais – já os nomes são fictícios, com exceção de um magistrado que permitiu o uso de sua identidade.
Apesar de todas as histórias serem especiais para a autora, ela considera que o capítulo “Espectro da fome” é um pouquinho mais, por ser o motivo desencadeador da sua vontade de buscar melhorias para todos, mola propulsora de sua carreira na assistência social. No capítulo, Maria Salete relata seu primeiro contato com a triste realidade da vulnerabilidade social quando, aos 13 anos, acompanhou um velório em casa vizinha da sua, em cidade do interior do Paraná, de uma criança de apenas dois anos que faleceu por desnutrição, ou seja, por falta do que comer.
Foi essa imagem e situação vivenciada, garante Maria Salete, que fizeram nascer naquela então adolescente o desejo de ver efetivado o artigo 3º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que em um dos seus incisos prevê “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. E a trajetória foi longa e árdua, principalmente em sua atuação na Vara Criminal e no Juizado Especial Criminal e de Violência Doméstica. “Foi uma experiência pessoal e profissional que deixou marcas indeléveis em meu ser. Fonte de muito aprendizado. Lição de vida!”, complementa.
O trabalho na confecção do livro foi, por assim dizer, catártico. “Ver a obra evoluir em cada palavra escrita e o texto tomando forma foi maravilhoso. Muitos sentimentos invadiram o meu ser: nostalgia por um tempo vivido, saudades de alguns dos personagens da obra, curiosidade em saber como seguem, gratidão por tudo o que vivenciei, lições e crescimento humano. Foi necessária coragem, porque não foi fácil revelar meus sentimentos mais profundos, desvelando-me como profissional e ser humano”, admite.
A obra foi lançada em uma tarde especial no fórum de Chapecó e também na Associação das Assistentes Sociais – Região Oeste (APAS). Outro livro já está nos planos da assistente social, desta vez mais técnico, no qual abordará a temática da violência doméstica e suas nuances. Mais uma obra em que será possível acompanhar a dedicação de uma vida profissional em busca do desejo daquela pequena curiosa. “Considero que fazer valer os direitos sociais de todos foi uma de minhas lutas e, em alguns casos, sempre em conjunto com instituições e vários segmentos, foi possível vencê-las”, comemora a novel escritora.