Coluna do dia

Sinuca de bico

Sinuca de bico

A vida não está fácil para Moisés da Silva. Tudo bem que em 2018 ele era um ilustre desconhecido e como azarão acabou eleito governador na onda do 17. Assumiu cercado de expectativas e enfrentou uma série de dificuldades. Primeiro porque se enclausurou no palácio residencial, ignorava a todos. O isolamento o levou a enfrentar dois pedidos de impeachment.
Foi afastado em duas oportunidades em caráter temporário. Depois dos sustos, ele mudou a forma de se relacionar com o mundo político. Passou a se articular com os deputados e prefeitos. Até o setor empresarial mereceu alguma atenção. O governador foi salvo dos dois processos e entrou num novo ritmo administrativo. Chegou a ter 30 dos 40 deputados estaduais em sua base. Maioria esmagadora.
Também se notabilizou liberando recursos vultosos às prefeituras, via deputados, o famoso Pix do Moisés.
Passou a viver um novo momento. Só que no período da pré-campanha não conseguiu costurar os acordos indispensáveis para se viabilizar como forte candidato à reeleição.

MDB

O primeiro grande erro de Moisés da Silva, indiscutivelmente, foi não ter se filiado ao MDB. Partido que no frigir dos ovos, na convenção, acabou fechando com ele. Indicou o ex-prefeito de Joinville, Udo Döhler, candidato a vice, o deputado federal Celso Maldaner ao Senado.

Rasteira histórica

Ambos, Udo e Maldaner, fritaram Antídio Lunelli, que teve o nome confirmado nas prévias após renunciar à prefeitura de Jaraguá do Sul. Seu tapete foi puxado. Quando todos imaginavam que o MDB iria com tudo para a recondução de Moisés, o que se observa é que a parceira não deslanchou. Muito antes pelo contrário.

Por cima

A militância emedebista não mergulhou na campanha majoritária. A base está indiferente ao candidato escolhido pelos mandatários, prefeitos e deputados.

Clima polar

O ambiente é tão frio que Moisés da Silva se viu obrigado a entregar o governo a Moacir Sopelsa. O deputado que preside a Assembleia Legislativa foi um dos grandes fiadores do acordo que levou o partido para a aliança do governador.

Sucessão de erros

Na hipótese de Moisés ter se filiado ao MDB essas disputas todas, esse desgaste brutal, não teriam ocorrido. Ele seria o candidato à reeleição pelo partido. O emedebista-raiz, lá da ponta, ainda não assimilou o fato de o maior partido do estado estar apoiando um nome filiado ao Republicanos, que tem um deputado estadual em Santa Catarina. E goela-abaixo.

Manobra arriscada

O problema é que essa última tentativa de trazer o MDB para a campanha em favor do governador enfrenta dificuldades. A transição para a interinidade de Sopelsa está marcada para sábado. Até agora, contudo, a vice-governadora Daniela Reinehr ainda não assegurou que também irá se licenciar para que o presidente da Alesc assuma o Executivo.

Liberais

Ela é candidata a deputada federal. Pelo PL do senador Jorginho Mello, que vê em Moisés seu maior adversário até aqui. Jorginho estimula a vice a assumir o governo em caso de licença de Moisés. O senador do PL não quer ver concretizado este acordo Republicanos-MDB.

Bola de segurança

Evidentemente que o governador só passará o bastão para o Moacir Sopelsa. Ele não entregará a gestão a sua desafeta Daniela.

Riscos

Há outro componente neste contexto eleitoral. Com Sopelsa assumindo o governo, outro líder do PL, o deputado Maurício Eskudlark, assumiria a Alesc.

Segurando a onda

Vários pedidos de impeachment deram entrada no Legislativo e não foram lidos pelo atual chefe do Poder. O advogado Leandro Maciel, candidato a deputado federal pelo PROS, já anunciou que assim que Eskudlark assumir irá protocolar novo pedido de impeachment de Moisés. A motivação seria um suposto abuso de poder econômico na atuação de Moisés da Silva durante a pré-campanha.

Pedra de tropeço

Já imaginaram se Eskudlark aceitar o início de um novo processo de impedimento do governador às vésperas da eleição? Seria um estrago enorme. Ao fim e ao cabo, ainda não dá pra cravar, longe disso, que Sopelsa irá realmente assumir o governo catarinense de forma interina.
Como consequência, também não dá pra projetar o ingresso do MDB na campanha eleitoral do atual governador do estado.

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