Recordo-me de ter lido, até porque não vivi esse período, que nas décadas de 50 e 60, havia três grandes partidos no Brasil: UDN, PSD e o PTB.
Dois deles criados pelo próprio Getúlio Vargas, que tinha a UDN como opositora. Naquela época, o eleitor que ia exercer o direito do voto, se não tinha candidato a deputado estadual e federal, ele ia na lista e ali escolhia seu representante.
Tínhamos um sistema partidário neste país. Boa parte do eleitorado votava com base em sua afinidade partidária, ideológica. Hoje o que se observa não é isso. Votamos em candidato, independentemente do partido. O voto de um eleitor vira uma geleia geral.
Ele vota em candidatos os mais variados, fragilizando nossa sustentação democrática, porque não é baseada em partidos, mas em líderes.
Com essa multiplicidade de partidos, fica tudo muito difícil, gerando instabilidade, impeachments, governos tendo que lotear suas gestões para garantir sua sustentação parlamentar e etc.
Tudo na base de nomes, não de partidos, de lideranças e não de siglas.
Eles contra nós
Tanto é que na última e na penúltima eleição, Bolsonaro foi eleito no sentimento anti-Lula. Depois, precisou Lula ser descondenado pelo STF para derrotar o antecessor. Uma guerra de nomes, pessoal.
Personalização
Mas virou isso aí: lulismo contra Bolsonarismo, Bolsonarismo contra lulismo. Polarização em torno de nomes. Lula é muito maior do que o PT, Bolsonaro não é tão maior do que o PL, mas ainda assim representa mais que o partido.
Engano
Mas seguimos com base numa realidade equivocada. Isso precisa ser avaliado, discutido.
Gean
Dito isso, vamos apreciar algumas situações de Santa Catarina. Uma, específica, mas com duas ramificações. Gean Loureiro foi reeleito prefeito da Capital em 2020. Pouco mais de um ano depois, ele renunciou para uma aventura!
Ah tá
E aí resolveu renunciar. Terminou em quarto lugar na corrida eleitoral do ano passado. Considerando-se os votos brancos e nulos, terminou em quinto.
Nem aí
Gean Loureiro deixou seu partido sem eira nem beira. Seu União Brasil, resultado da fusão do DEM com o PSL, está sem líder. Gean terá que reconstruir seu caminho. Quase que do zero. E o partido?
Blumenau
Assim já está fazendo Napoleão Bernardes, duas vezes prefeito de Blumenau. Foi outro que renunciou para dar um salto no escuro e agora recomeça na Alesc.
Barco furado
Napoleão queria ser candidato a senador e acabou vice de Mauro Mariani ao governo do estado. Foi um desastre. O blumenauense ficou ao desabrigo, como está hoje o ex-prefeito da Capital. Assim será com Gean. Terá que recomeçar.
Desconfiômetro
Se ele, Gean, tivesse ficado na prefeitura, completaria o mandato em 2024, elegeria o sucessor, provavelmente Topázio Silveira Neto, que virou prefeito graças à sua renúncia. Topázio hoje é o grande nome da política florianopolitana. Gean está na sombra, no sereno.
Timing
Gean, se não tivesse cometido esse erro grosseiro, seria forte adversário de Jorginho Mello em 2026. O mesmo erro não cometeu o prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, que ficou no cargo, vai completar o mandato e tem perspectivas futuras.