O MDB continua sendo um partido estratégico tanto no plano nacional quanto no contexto estadual.
A legenda, que precisou trocar de nome nos anos 80 diante do ressurgimento do pluripartidarismo. Durante a revolução, os militares impuseram o bipartidarismo, com a ARENA como partido da situação e o MDB da oposição, tendo à frente personalidades que marcaram época no Brasil, como Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
A partir de 1980, era o PMDB, devido à obrigatoriedade do P, de partido, à frente da sigla. Mais recentemente, voltou o MDB velho de guerra, que já foi muito eficaz.
Até hoje, todos os governos necessitam do apoio do Manda Brasa para construir maiorias sólidas no Congresso, tanto na Câmara quanto no Senado. É verdade que essa força vem perdendo substância e consistência, até mesmo pelo resultado das duas últimas eleições.
O PMDB, que em 1984 elegeu Tancredo Neves pelo Colégio Eleitoral, viu-o adoecer na véspera de tomar posse, vindo a falecer em maio de 85, com o governo sendo exercido pelo vice, José Sarney. Naquela época, Sarney já estava no MDB, mas por longos anos foi presidente não da ARENA, mas do PDS que a sucedeu.
Tivemos, então, em 1989, o restabelecimento das eleições diretas. Ulysses Guimarães assumiu a candidatura e chegou em sétimo lugar.
Tripé
A partir de 1994, ocorreu uma sucessão de embates entre o PSDB e o PT, com o MDB, dependendo das circunstâncias, apoiando ora um, ora outro. Mesmo quando o PT precisava de respaldo parlamentar, lá estava o MDB, que acabou sendo identificado como um partido meio governista e também conhecido por seu caráter fisiológico.
Influência
O partido perdeu densidade eleitoral e, consequentemente, poder de influência na negociação no Congresso e no Palácio do Planalto. Aqui no estado, desde o restabelecimento das eleições estaduais em 1982 até 2014, o MDB sempre foi protagonista. Quando havia segundo turno, chegava à grande final; quando não havia, era o partido que enfrentava o outro adversário, inicialmente o PDS e depois o PFL e o PP.
Marco
A relevância deixou de existir pela primeira vez em 2018, com o advento da onda Bolsonaro, que colocou Carlos Moisés da Silva no segundo turno contra Gelson Merisio, e o emedebista Mauro Mariani ficando de fora.
Memória
Já não está mais entre nós, mas foi Luiz Henrique da Silveira, quem impulsionou o MDB nos últimos tempos, elegendo-se duas vezes governador e assegurando a eleição de Raimundo Colombo em outras duas oportunidades. Em 2018, foi a primeira vez que o MDB ficou de fora e foi também a primeira eleição sem LHS.
Faz falta
Não é mera coincidência, evidentemente. Em 2022, aquele MDB que não foi pela primeira vez para o segundo turno resolveu apoiar a reeleição de Carlos Moisés, indicando Udo Döhler de vice e preterindo Antídio Lunelli, empresário e ex-prefeito de Jaraguá do Sul, hoje deputado estadual.
Reflexão
Mais uma vez os emedebistas ficaram de fora do segundo turno, ou seja, o MDB precisa fazer uma avaliação de quadro. Vamos ficar agora só aqui em Santa Catarina. No estado, é preciso que o partido reflita sobre o seu futuro.
Sintonia
E aí observamos duas das três principais lideranças batendo na tecla de que temos que buscar um caminho pelo centro. Quem tem declarado isso? O deputado federal Carlos Chiodini, atual presidente do partido no estado, e o presidente da Assembleia, Mauro de Nadal, ambos focando na necessidade de escapar da polarização entre direita, PL Bolsonaro, e esquerda, PT de Lula.
Polos
Na eleição municipal que se avizinha, a polarização não será necessariamente com o PT, e sim com o PSD, que tem um pé e meio no centro e meio pé na direita por conta do discurso do prefeito João Rodrigues. Discurso esse de cunho bolsonarista, embora o PSD esteja com três ministérios no governo Lula da Silva.
Ponto certo
Além dessas duas lideranças que focaram no discurso de centro para tentar ser uma terceira alternativa, há o próprio Antídio Lunelli se posicionando. Só que ele procura levar e carregar o partido numa direção mais conservadora.
Dificuldades
O PL, é bem verdade, ocupou o espectro da direita. Mas o MDB pode buscar um espaço aí também. Especialmente se lembrarmos que vivemos num estado essencialmente conservador e potencialmente bolsonarista.
Risco calculado
Nesse contexto, buscar um caminho pelo centro, considerando-se a ligação do MDB em Brasília com o governo Lula, ocupando também ministérios, convenhamos, é um risco grande para que o MDB, hoje, com 100 prefeituras. Se optar pelo centro, a legenda assume o risco de sofrer um baque considerável no número de prefeitos nas eleições de outubro deste ano.