O Tribunal de Justiça de Santa Catarina está de aniversário. Completa hoje 132 anos de história. Uma solenidade na manhã desta segunda-feira (2/10) marcou o início das comemorações, com a abertura de uma exposição alusiva à data que traz fotografias, documentos, peças de vestuário e reportagens que marcaram outras tantas datas importantes e caras ao Judiciário catarinense.
O presidente do TJ, desembargador João Henrique Blasi, e a presidente da Comissão de Gestão de Memória do Judiciário Catarinense, desembargadora Haidée Denise Grin, foram os anfitriões do evento, realizado no hall de entrada do Tribunal de Justiça e que contou com demais integrantes do corpo diretivo, desembargadores, juízes auxiliares, diretores, assessores e servidores em geral.
Homenagens marcaram a passagem da efeméride, com destaque para aquela prestada à primeira mulher a vestir toga na Justiça estadual: desembargadora Thereza Grisólia Tang. Para discorrer sobre sua trajetória, a convidada foi a professora doutora Maria Cláudia da Silva Antunes de Souza, titular da cadeira de número 11 da Academia Catarinense de Letras Jurídicas (Acalej), que tem como patrona justamente a saudosa magistrada.
Delicada, mas firme e corajosa, segundo a acadêmica, a jovem Thereza desde cedo perseverou para alcançar seus objetivos. Ao casar, sua mãe teve que garantir com o futuro genro – cidadão alemão que tinha o ofício de dentista – que ele apoiaria a contínua formação acadêmica da filha, que pouco antes havia vencido um concurso de melhor estudante gaúcha. Juntos, concluíram o curso de Direito na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Natural de São Luiz Gonzaga-RS, Thereza precisou vir para Santa Catarina, pois seu Estado natal proibia, já nos editais, que mulheres buscassem vaga na carreira da magistratura. Em 21 de dezembro de 1954, aprovada em concurso público em Santa Catarina, tomou posse como a primeira juíza do Estado. Ouviu do então presidente uma frase emblemática para a época: “Você será nosso teste.”
Ela não se deixou influenciar. Chegou ao TJ em 1975 e assumiu a presidência da Corte estadual em novembro de 1989. Novamente de forma pioneira. E isso depois de ser advertida por familiares, desde cedo, que “os pioneiros sempre sofrem”. Aposentou-se em 1992 e faleceu em 2009, aos 87 anos. Sua toga primeva, que já esteve sob guarda da única filha na Suíça e por último seguia a carreira da sobrinha, juíza Mônica do Rego Barros Grisólia, retornou a Florianópolis e ao patrimônio histórico do TJ.
Está, inclusive, na exposição que hoje se instalou. A desembargadora Haidée lembra que, ainda na condição de servidora do TJ, teve o privilégio do convívio com a desembargadora Thereza. Ela fez questão de agradecer à juíza Mônica pela cessão do vestuário ao acervo do Museu do Judiciário. A presidente da Comissão de Gestão de Memória também anunciou a conclusão da biografia dos 274 magistrados que compuseram e compõem o 2º grau de jurisdição, com o lançamento do 8º e último livro virtual da série, dividido em Torre I e Torre II.
Ao encerrar a cerimônia, o desembargador Blasi enalteceu a justa homenagem prestada à desembargadora Thereza Tang, para ele “uma mulher sempre à frente de seu tempo”. Nada mais apropriado, segundo o magistrado, do que lembrar uma mulher que ajudou a construir a história do Judiciário de Santa Catarina nestes tempos de empoderamento feminino e seu necessário reconhecimento. O presidente ainda lembrou os colegas magistrados retratados em vídeo apresentado em telão durante a solenidade. “Muitos já se foram, tantos outros seguem conosco, todos responsáveis pela construção dessa grande obra que se chama Poder Judiciário de Santa Catarina”, arrematou. Blasi também pediu uma salva de palmas para a desembargadora Haidée por seu profícuo trabalho apresentado no comando da gestão da memória do PJSC.