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Trabalhadores fazem ato contra emenda que propõe transformar Banco Central em empresa

Um ato público, a partir de 8h30 desta quarta-feira (12/06), em frente ao Anexo II do Senado Federal vai reunir trabalhadores contrários à transformação do Banco Central – hoje uma Autarquia – numa empresa pública. A manifestação foi convocada pelo Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (SINAL) e conta com apoio do Fonacate (Fórum Nacional das Carreiras Típicas de Estado), Fonasefe, Anafe, além de Sindsep-DF, Condsef, Sintbacen e em colaboração com a Frente Parlamentar Mista em defesa dos Serviços Públicos.

Os trabalhadores querem alertar os senadores sobre os riscos dessa transformação que pode colocar em risco funções importantes do BC.

O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (SINAL) vem alertando que a proposta em tramitação, pode acabar – por exemplo – com o PIX gratuito para a população. Transformado em empresa, o BC poderá terceirizar vários serviços. Nada impedindo que um deles seja o PIX, desejo antigo dos bancos particulares.

A transformação do BC para empresa pública consta de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que está em tramitação no Senado Federal e pouco foi discutida com a população.

 

Apresentada no ano passado pelo senador Vanderlan Cardoso (PSD/GO), a Proposta de Emenda à Constituição – PEC/65 propõe transformar o Banco Central numa empresa Pública. Uma deia bancada pelo atual presidente do BC Roberto Campos Neto, que trabalha por uma autonomia ainda mais ampla que a independência obtida em 2021.

 

O SINAL, com mais de 5.000 filiados em todo o Brasil fez consultas internas e 74% dos associados se manifestaram contra a ideia.

Para os dirigentes do Sinal há vários riscos na proposta, em especial porque ela foi apresentada sem uma discussão pública e pela pressa dos senadores em atender a Roberto Campos Neto. O presidente do BC, que deixa o cargo em dezembro deste ano, não esconde que gostaria de sair com o BC transformado numa empresa.

 

OS RISCOS

 

A extinção da Autarquia Banco Central do Brasil (BCB) e a criação, em seu lugar, de um banco central empresa pública, abre espaço para um possível fatiamento e para a posterior privatização de atividades hoje desempenhadas pelo BCB.

Dentre essas atividades, o PIX apresenta elevado potencial de monetização e lucratividade, conforme ilustram os dados apresentados neste texto.

Evolução do PIX em termos monetários impressiona

Para ilustrar a evolução do PIX, os Gráficos 1 e 2 abaixo apresentam, respectivamente, as evoluções diária e trimestral do volume total dos Pix liquidados no âmbito do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI).

Os principais destaques são um volume diário total crescente e uma relevância em percentual do PIB também crescente.

O volume diário total ultrapassou R$ 100 bilhões em abril de 2024, enquanto o volume trimestral atingiu 155% do PIB no último trimestre de 2023.

No acumulado de 2023, o volume total foi de R$ 14,47 trilhões, equivalente a 133% PIB.

 

Potencial grande de lucratividade do PIX

 

O volume total liquidado do PIX em 2023 ficou em R$ 14,47 trilhões.

Hipoteticamente, esse valor é capaz de gerar uma receita anual de R$ 14,47 bilhões, se tarifado a uma taxa de 0,1%, que representa um centavo a cada dez reais.

 

Subtraindo-se da receita anual usada no exemplo hipotético, o total das despesas do BCB de R$ 3,99 bilhões (Banco Central do Brasil, 2023), o lucro seria de R$ 10,48 bilhões, o que corresponde a 31% do lucro líquido do Banco do Brasil em 2023.

 

DÚVIDAS

 

O relatório com parecer favorável à transformação foi protocolado na quarta-feira, 05 de junho na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Apesar do governo ser contra a mudança, há senadores dispostos a avançar com o projeto, mesmo com pouca discussão pública sobre o assunto. Este é o caso do presidente da CCJ, o senador Davi Alcolumbre (União/AP).

 

Além da possibilidade da terceirização de atividades, como o PIX que hoje é grátis mas pode se transformar em fonte de receita, há outras dúvidas jurídicas que cercam o projeto. Como fica a situação dos atuais funcionários concursados do BC que teriam de se migrar do atual regime para a CLT? Como o BC continuará a executar funções típicas de estado, como garantir estabilidade e poder de compra da moeda, zelar e fiscalizar o sistema financeiro e como vai executar a política monetária nacional?

 

Essas dúvidas podem gerar uma série de questões a serem resolvidas na justiça, quando poderiam ser discutidas com menor pressa no Congresso.

 

foto> MarceloCasal Jr., divulgação