Enseja várias leituras a visita de Jair Bolsonaro em Santa Catarina na semana passada. Ela acabou desdobrada em duas frentes. A segunda foi capitaneada pelo governador Jorginho Mello, que o levou a Blumenau, onde o ex-presidente pôde ver de perto o estrago causado pelas águas de outubro no estado.
O Vale do Itajaí, em geral, é a região mais bolsonarista do país. Apesar das adversidades, a presença de Bolsonaro ali acabou levando algum alento a um eleitorado que o tem em alta conta.
A motivação da viagem foi Chapecó para evento na Efapi. Também, houve, contudo, modificações. O encontro ecumênico em defesa da vida acabou ficando em segundo plano.
Os holofotes se concentram no palanque político. Assim como o governador se valeu da presença de Bolsonaro no Vale para capitalizar politicamente, João Rodrigues, o prefeito da Capital do Oeste, fez mesmo por lá.
Logo ali
Só que com uma pequena diferença. O ex-presidente tomou seus cuidados. A equipe do prefeito roteirizou a captação de imagens já pensando na utilização do material na campanha de 2024.
Script
A certa altura, João Rodrigues faz de conta que não pode atender o telefone, pois está na rua com seu “cabo eleitoral.”
Calma aí
Quando a claque começou a entoar “Bolsonaro presidente, João governador,” o ex-presidente corrigiu a letra da cantoria na mesma hora: “João senador.”
Claro, cristalino como a luz do sol que Jair Bolsonaro está comprometido com o projeto de reeleição de Jorginho Mello.
Gestos
Tanto é assim que quando João Rodrigues terminava seu discurso para passar a palavra ao ex-presidente, ele chamou Jorginho e ficou entre os dois: do governador e do prefeito.
Tento
Mas o fato de ter conseguido levar o ex-mandatário a Chapecó já foi um tento para João Rodrigues. Ele conseguiu o que queria. Usará muito as falas e imagens captadas durante a campanha que se aproxima.
Longevidade
Jair Bolsonaro chegou a dizer publicamente que conhecia o prefeito há mais tempo do que o governador.
Conclui-se, portanto, que Bolsonaro está com João Rodrigues no projeto de reeleição à prefeitura de Chapecó.
Definição
Jorginho Mello tem a intenção de lançar candidatura do PL na cidade. Ele conhece muito bem o adversário João Rodrigues que, em 2022, na undécima hora, tentou montar uma chapa de “direita” para passar a perna nele.
Será?
Suponhamos que o governador consinta, concorde, assimile a ideia de apoiar a recondução do atual alcaide chapecoense. Ok, mas aí evidentemente o PL no mínimo teria que indicar o vice na chapa.
Balança
Sem isso, Jorginho terá elementos para argumentar junto a Bolsonaro que não haverá outro caminho ao PL que não seja lançar candidato próprio.
Preposto
E por que fazemos essa observação, essa antecipação de raciocínio? Porque o candidato a vice-prefeito na chapa de reeleição de João Rodrigues já está definido: Eron Giordani, que é homem de confiança do prefeito. Foi chefe de gabinete do prefeito em todos os seus mandatos. Hoje é preposto de Julio Garcia na proa do PSD estadual.
Oposição
Como o projeto dos pessedistas é apresentar o prefeito de Chapecó como candidato a governador em 2026, visando a dividir o eleitorado conservador – o que pode favorecer o projeto totalitário do PT – a prefeitura ficaria por dois anos sob o comando de Eron Giordani, que seria candidato à reeleição em 2028. Para disputar o governo, Rodrigues terá que renunciar ao mandato.
Sem chance
Como Bolsonaro vai exigir que Jorginho apoie um projeto de chapa pura do PSD que está com três ministros no governo Lula, se o projeto passa por fortalecer a oposição ao governador com vistas a 2026.
Caminhos
Num cenário assim, o governador vai se sentir liberado do compromisso. Salvo um gigantesco engano, o PSD não abrirá mão da vaga de vice em favor do PL na eleição municipal de Chapecó.
Projeto
Evidentemente o PSD não estará com o governador no projeto de reeleição. Ou seja, João Rodrigues não será candidato ao Senado na chapa de Jorginho. Pelo alinhamento federal, é possível uma estratégia conjunta envolvendo petistas e pessedistas em Santa Catarina contra os verdadeiros conservadores.
Sistemática
O PSD-SC, aliás, faz muito mais oposição por debaixo dos panos do que o próprio PT catarinense.