Artigos

Um mal desnecessário

Acredito e defendo que em qualquer atividade ou profissão é essencial estar bem informado sobre o que acontece nos contextos social, político e econômico do nosso país, estado, município. Nada melhor que ter assunto, poder opinar com segurança, discutir sobre tudo com alguma propriedade. De uns tempos para cá, porém, senti a necessidade de filtrar as fontes de informação. Com a ampla gama de canais e fontes de pesquisa disponíveis, passei a procurar mais pelo que me interessa e ficar menos passivo ao que nos oferecem.

E aqui falo mais especificamente dos noticiários televisivos. Não é preciso fazer uma pesquisa quantitativa para constatar que a grande maioria das notícias tem viés negativo. Quantas vezes ligamos a TV ao chegar em casa apenas para “fazer barulho” e acabamos absorvendo aquela quantidade de informações sobre crimes de todos os tipos, corrupções, tragédias mundo afora? Televisão é quase um hábito para muitas famílias – e aí incluídas as crianças, que, embora não pareça, acabam captando o que se passa ali.

Acabamos nos acostumando a receber essa carga negativa, muitas vezes desviando nossa atenção, que poderia estar voltada a uma conversa em família, à leitura de um livro ou simplesmente a outros afazeres do cotidiano. Não se trata de uma campanha para que não se assista à televisão. O fato é que o jornalismo, com raras exceções, adotou a máxima de que notícia boa não vende. Então, quanto pior, melhor. Não devemos ficar escravos disso.

Podemos ser mais seletivos. Hoje, por um baixo custo temos os provedores globais de filmes, documentários e séries, temos a infinidade de canais de comunicação via internet, sem falar nos jornais impressos, em que é mais fácil selecionar aquilo que nos interessa.

A questão dos noticiários sangrentos é somente um exemplo de interferências negativas externas que podemos bloquear. Assim como existe uma sobrecarga de informações que nos deixam mal, existem também ambientes e até pessoas que nos afetam de uma forma ruim. Somos livres para fazer nossas escolhas, seja na forma de nos relacionar com esses meios, na forma como nos alimentamos, em como tratamos nosso corpo e nosso espírito.

Todas essas escolhas nos transformam no que somos. E existe uma, que é a principal delas, que é escolher como queremos ser. Descobrir o que nos faz bem, o que nos melhora, é um aprendizado constante. E isso significa abrir mão de hábitos que já não nos preenchem mais. Existe uma infinidade de livros e filmes de autoajuda que falam sobre tudo o que de alguma forma já sabemos, mas nem sempre colocamos em prática. As dicas são muitas: pratique um novo hábito por 21 dias consecutivos e ele se tornará parte da sua vida. Tire apenas 30 minutos do seu dia para fazer algum exercício e você sairá do sedentarismo. Ajude alguém em pior situação e você aprenderá a valorizar o que tem. Ou, como sugeri, pare de ser sugado pela energia negativa dos noticiários sangrentos.

Sabemos o que devemos fazer, sabemos o que nos faz bem e o que nos faz mal. Mas continuaremos não colocando nada disso em prática enquanto essas decisões estiverem vindo de fora para dentro. Muitos de nós precisamos passar por um choque, uma doença, uma perda, para que “caia a ficha”. O ideal seria começar antes, mas sempre é tempo de evoluir. Parar, observar e pensar nas nossas escolhas é um bom começo.

 

Antonio Gavazzoni, advogado e doutor em Direito Público

 

Sair da versão mobile