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Velocidade média para transitar na BR-470 é de 29 km/h

A velocidade média que um veículo do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC) transita pela BR-470, entre Navegantes e Campos Novos/SC, o equivalente a 320 quilômetros, é de 29,09 km/hora. Neste fluxo, a viagem chega a levar 12 horas para percorrer o trecho estudado, quase três vezes a mais do que se trafegasse na velocidade média ideal de 80 a 88 km/h (total de 4h49min).

“Os reflexos deste tempo a mais na rodovia são sentidos nas pontas dos processos logísticos. O efeito cascata é inevitável e pesa no bolso do consumidor”, avaliou o presidente da Fetrancesc, Ari Rabaiolli, ao ressaltar a elevação consequente dos custos da atividade do transporte e a necessidade de repassá-los no preço de tudo o que passa pelo caminhão.

Ari Rabaiolli, presidente da Fetrancesc – fotos>divulgação

Os dados são do estudo de impacto logístico e financeiro (identificação de indicadores de custo) do fluxo de veículos na BR-470/SC, trecho entre Navegantes e Campos Novos, realizado pela Fundação de Apoio à Educação, Pesquisa e Extensão da Unisul (Faepesul) e contratado pela Fetrancesc. Eles foram apresentados durante live no canal do YouTube Imprensa Fetrancesc na manhã desta terça-feira, 22 de fevereiro.

A pesquisa também revelou que, somente neste trecho, trafegam 35 mil veículos por dia, 20% deles (7 mil) de carga. Outro dado curioso é que, da extensão total da rodovia, 206 km (64%) apresentam pontos críticos relacionados à condição da pista, iluminação, acostamento precário e imprudência, num perímetro que concentra 9 cidades. Somente no trecho estudado são 16 pontos, o equivalente a 56 km, a maioria deles no sentido Navegantes-Campos Novos (9).

O cenário exige, por sua vez, 116% de veículos de carga a mais para recompor as necessidades logísticas nestes 16 pontos críticos.

Prejuízos – A precariedade da rodovia em relação às suas condições, seja pela sinalização ou manutenção no trecho estudado, também acarreta em prejuízos para a eficiência dos veículos pesados de transporte devido aos altos índices de tráfego. Isso gera impactos diretos na relação tempo/consumo e, por consequência, nos custos de logística e transporte das mercadorias que passam pela região.

O desgaste de um veículo pesado em marcha lenta equivale a uma viagem de 80 a 120 minutos com um caminhão na velocidade ideal de 80 a 88 km/h. O custo de desgaste de 60 minutos de marcha lenta, por outro lado, equivale a um acréscimo considerando o custo do litro do diesel (neste caso, em Santa Catarina). Nestas circunstâncias, com a velocidade real do trecho da rodovia de 29 km/h, a relação custo x tempo praticamente triplicam.

Os prejuízos em virtude da baixa velocidade vão desde os efeitos na condução do veículo, no motor, no consumo de combustível, custo de manutenção, até o controle de condução e de velocidade como aliados para a segurança.

O consumo de diesel pelos veículos de carga nesta velocidade se eleva em até 15% e os gastos a mais nos veículos aumentam em 115%. Realidade que projeta para cima, inclusive, o custo fixo do motorista em 2,15 vezes frente ao cenário moderado, acarretando em 2,88 vezes a mais de custos financeiros/totais e 13% a mais em custo operacional.

“Ao considerar o custo fixo do caminhão parado em torno de R$ 100/hora, sendo 30% com a mão de obra do motorista, temos este percentual elevado a quase 65%. O cerne da questão é que não estamos tratando de elevação do salário do motorista, como uma valorização, mas, ao contrário, um custo pela improdutividade que ele acaba tendo por ficar mais tempo na estrada do que deveria”, destacou Rabaiolli ao reforçar, também, a jornada do motorista de 11 horas e a queda na qualidade de vida do profissional ao enfrentar estes problemas.

Outro fator preocupante é que o transportador deixa de investir 11,25x em virtude de todos os prejuízos somados com estes problemas de infraestrutura. Significa dizer que o custo total da atividade, perda do faturamento ou o que se deixa de ganhar chega em 55%. E, para cada R$ 1 custeado na operação, têm-se o acréscimo de 36% por quilômetro rodado.

“Uma vez que se deixa de investir, toda a cadeia é penalizada. Ou seja, são veículos novos que deixam de ser comprados, novos benefícios para o colaborador que são inviabilizados, entre outros impactos. É que a conta não fecha mesmo. O custo eleva e o faturamento não acompanha”, complementou o presidente da Fetrancesc.

Mas os prejuízos não param por aí. O custo socioambiental relativo ao consumo de diesel em litros desnecessários para um veículo na velocidade de 29 km/h são 82,6% superiores, o que representa 215 kg / litro de CO². Neste sentido, são necessárias quase 31 árvores em compensação à emissão de poluentes nos piores trechos.

A rodovia – BR-470 possui 832,9 km de extensão total entre Navegantes/SC e Camaquã/RS. São 358,9 km em território catarinense, com início em Navegantes/SC até a divisa com o Rio Grande do Sul (Ponte sobre o Rio Uruguai), trecho que atravessa 19 municípios. O estudo contratado pela Fetrancesc contemplou a análise de 320,3 km, entre as cidades de Navegantes e Campos Novos.

Esta rodovia é fundamental para o escoamento da produção agropecuária da região Oeste para os portos, sobretudo na região de Itajaí, Navegantes, São Francisco do Sul e Itapoá.

O trânsito na BR-470 é acentuado nas regiões de Navegantes, Blumenau, Indaial e Rio do Sul. Em menor proporção estão Gaspar, Apiúna, Ibirama, Agronômica e Pouso Redondo. Por outro lado, o estudo demonstrou que os trechos da BR-470 classificados como os mais perigosos do Brasil são nas regiões de Ibirama e em Pouso Redondo, nas 27ª e 28ª posições, respectivamente.

O impacto do atraso da duplicação contribui para o agravamento da situação do trecho estudado, além de acarretar em prejuízos para o TRC, estendendo num rebote negativo e integrado, a diversos outros setores.

Acidentes na BR-470 – O estudo da Fetrancesc reforçou que 90% dos acidentes registrados nas rodovias federais de SC entre 2007 e 2020 (total de 201.707) foram causados em virtude do comportamento das pessoas. A informação é da Polícia Rodoviária Federal (PRF), segundo a qual 99.147 destas ocorrências foram com vítimas, sendo a maior concentração de acidentes em 2010 (3.712), da mesma forma que a quantidade com vítimas (1.484). As ocorrências com mortes, por sua vez, foram maiores em 2011 (165).

No topo do ranking dos acidentes estão os que envolvem automóveis (53,4%), seguido de moto (23,3%), caminhão (14,7%), bicicleta (5,3%), ônibus (1,3%) e demais veículos (2,1%).

Os custos gerados por estes acidentes são incontáveis para as vítimas e seus familiares, sobretudo quando vidas são ceifadas. Por outro lado, eles também impactam financeiramente nos cofres do Estado e no bolso do próprio cidadão. Eles são compostos de dados associados às pessoas – despesas hospitalares e perda de produção –, associadas aos veículos – remoção de veículos, danos, perda de carga – e institucionais e danos à propriedade – atendimento e processos e danos à propriedade pública e privada.

Somente em 2020, quando houve 7.217 acidentes em rodovias federais em Santa Catarina, este custo chegou a R$ 1.033.209.033,00. Os números são alarmantes ao se referirem apenas à BR-470 na última década (2010/2020): um total de R$ 3.203.190.290,00 (pouco mais de 3 bilhões e 200 milhões de reais).

O trabalho observou pontos críticos da rodovia para a atividade do Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), no período de maio a setembro de 2021, seguindo preceitos técnicos e científicos, em respeito a métodos e técnicas da ciência da administração, engenharia(s) e gestão pública. Da mesma forma, foram observados elementos estruturantes do tráfego, a exemplo de motoristas, pedestres, veículos, vias, meio ambiente e integrações.

Os resultados deste estudo esclarecem os principais impactos do fluxo de veículos no referido trecho, com destaque para os relacionados aos custos do transporte rodoviário e a logística.

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