Não dá para engolir – é absolutamente reprovável – a decisão do plenário da Câmara de Vereadores de Florianópolis, de aumentar o valor do vale-alimentação (que passou para R$ 1.091,00) dos servidores e dos próprios edis; e também de majorar a verba de gabinete de cada um deles em mais R$ 5,1 mil mensais.
De salários, cada parlamentar recebe R$ 15 mil ao mês. Sob o aspecto da legalidade, nenhum problema. Sob o viés da moralidade, contudo, os aumentos são inaceitáveis e motivo de vergonha para os moradores da Capital e de Santa Catarina.
Essas duas mudanças financeiras no legislativo manezinho já haviam sido tentadas em junho do ano passado. Ao sentir a pressão contrária, os vereadores puxaram o freio de arrumação em 2018. Também porque estávamos ás vésperas da campanha eleitoral.
Agora, no entanto, no mais absoluto silêncio e de forma sorrateira, o projeto foi colocado em pauta na undécima hora, lido, votado e aprovado em 25 segundos. E mais. Tudo no apagar das luzes das atividades parlamentares deste primeiro semestre de 2019, sem qualquer discussão com a sociedade. Também não houve qualquer debate interno acerca do “projeto”.
Patamar
O valor do vale-alimentação agora é um pouco maior do que o salário mínimo pago aos trabalhadores da iniciativa privada.
Em causa própria
Os aumentos autoconcedidos pelos vereadores de Florianópolis vieram à tona no exato momento em que o país e as instituições estão cortando na própria carne. Em plena semana da histórica votação da Reforma da Previdência, criada para gerar economia de centenas de bilhões ao erário. Em Santa Catarina, os poderes – Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público – vêm tomando medidas e anunciando ações de enxugamento de gastos.
Reação
Nas ruas, no trabalho, no convívio e nas redes sociais, a população de Florianópolis reagiu com veemência. As entidades, idem, divulgando notas duras, com críticas pesadas ao comportamento dos nobres edis. Mais uma vez assistimos, estupefatos, a este tipo de espírito de corpo (ou seria de porco?) prevalecer, unindo vereadores de todas as frentes ideológicas. Sem exceção.
Temperatura
A pressão sobre os edis florianopolitanos precisa continuar. Eles devem ser constrangidos publicamente. Quem sabe assim, e só assim, eles criem vergonha na cara e voltem atrás, cancelando estes aumentos abusivos.
No pódio
Levantamento do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-SC) mostra que a Câmara de Vereadores de Florianópolis está no topo do ranking nacional entre 27 legislativos de capitais. Proporcionalmente, a “casa do povo” da Capital catarinense é a segunda que mais gasta, a segunda mais cara do país! Só não gasta tanto quanto a sua equivalente em Palmas, no Tocantins. É o desempenho da vergonha.