Mais do que um meio de transporte, a motocicleta estabelece um estilo de vida. Talvez o mais democrático dos meios de transporte motorizado porque, além de existir com preços e complexidades que atendem a todos os bolsos, também se desdobra em estilos que satisfazem os mais diferentes desejos. Desde uma simples motocicleta de baixa cilindrada que serve como transporte urbano e ferramenta de trabalho, passando pelas esportivas que desafiam limites de velocidade (e de juízo), pelas motocicletas de turismo que nasceram só para o asfalto perfeito, pelas de estilo “naked” que expõem seus “músculos” e a sua disposição em ventilar seu piloto, pelas motos de estilo “custom” que esbanjam cromados e pinturas extravagantes carregando grandes doses de couro, pregos, rebites, parafusos e outras coisas penduradas, até chegar nas motocicletas de todo terreno, também conhecidas como “big trails”, onde definitivamente encontrei meu estilo, minha identidade de motociclista.
Costumo dizer, quando me perguntam como é andar de moto, que essa explicação é complexa demais pra ser apresentada pra quem nunca o fez. Que é mais ou menos como tentar explicar o que é a falta da gravidade pra quem nunca esteve na lua. Antes que meu interlocutor fique irritado concluo rapidamente dizendo que um fim de semana dentro do capacete vale mais do que 6 meses de terapia e de livros de auto-ajuda.
Viajar de moto é uma junção de duas viagens, na verdade. Uma para algum lugar terrestre, com destino definido e razoável precisão na previsão de tempo, quilometragem, custo, combustível, etc. Outra para dentro de si, onde não se tem a menor possibilidade de prever nada. Nem o destino, nem o clima ou custo e nem o tempo que se levará pra voltar de lá, às vezes não se volta nunca mais.
Viajar para dentro de si enquanto se viaja sobre uma motocicleta é uma aventura inevitável.
– A solidão imposta pelo capacete e a massagem permanente do vento te fazem sentir distante de todos, até mesmo da amada na garupa que nunca está mais longe do que 2 centímetros.
– A necessidade incontornável de atenção à estrada e às curvas te exige foco físico e forçosamente não te deixa fazer mais nada a não ser olhar pra frente.
– A necessidade indiscutível de ter o tempo todo as duas mãos ocupadas com o guidão te livra da busca automática pelo celular, emails, redes sociais, e demais neurotizantes.
– A sequência de curvas e a doçura de ser embalado por 250 quilos de metal, borracha e gasolina te emociona.
A moto é como se fosse uma prótese motorizada do piloto. A relação de continuidade física e de movimento entre moto e piloto não existe em nenhuma outra máquina de movimento. Aí está o contexto PERFEITO para a viagem para dentro de si. Já fiz muitas, de algumas nunca voltei, de algumas voltei vitorioso e de outras tantas voltei um pouco mais velho.
A verdade é que viajar de moto combina duas aventuras inesgotáveis. Assim, quando me perguntam se tenho viajado de moto, minha resposta é sempre a mesma: menos do que eu gostaria.
Aguinel José Bastian Júnior
Motociclista